Um problema “deles”? Ou nosso?
A Notícia do Dia fui buscá-la à página de Economia do jornal Público com o título “Mais de 70% dos empregos perdidos em 2020 eram ocupados por jovens”. Todos os dados que dão corpo à notícia foram retirados do Livro Branco – Mais e Melhores Empregos para os Jovens, elaborado a partir de fontes muito diversas recolhidas e analisadas pela OIT, o Observatório do Emprego Jovem e a Fundação José Neves.
Com o foco nos jovens, este trabalho reforça números e dados já conhecidos: emprego de baixa qualidade, precário, baixos salários. Se houve fuga de jovens para o estrangeiro, onde encontraram condições de trabalho e salários atractivos e condizentes com as suas habilitações e expectativas de vida, ao invés também houve situações de inactividade e dificuldades de reintegração social para aqueles jovens que viram a sua situação de precariedade evoluir para desemprego.
O estudo analisa diferentes segmentos dentro da faixa etária dos sub-30 e a evolução da situação do emprego jovem a seguir à troika, com especial incidência no ano mais agudo da pandemia e nos seguintes. Se antes da pandemia o desemprego jovem era 2,5 superior ao desemprego total, na pandemia esse rácio subiu para 3,5 vezes. Em 2020, 71,4% do emprego perdido era ocupado por jovens com menos de 30 anos. Em 2021, o desemprego jovem era de 23,4%. Também em 2021, na faixa entre os 15 e os 24 anos, 53,9% desses jovens tinham contratos a prazo. No outro prato da balança, temos uma geração muito qualificada, em que 48% dos portugueses entre os 25 e os 34 anos tinham formação superior e 60% com domínio de uma outra língua.
Neste ano em que se celebra o Ano Europeu da Juventude, como avalia o governo a sua contribuição para a valorização da geração mais qualificada, a geração do futuro, a geração que vai enfrentar desafios imensos? Como dizem os autores deste relatório, o problema não é “deles”, mas do país, pois “os défices de oportunidades de emprego e de trabalho de qualidade para os jovens comportam importantes custos sociais e económicos e limitam o potencial de desenvolvimento.”
Sem querer ser pessimista, embora me seja impossível encarar com optimismo o futuro, não quero acreditar que o governo ignore estes relatórios feitos por entidades credíveis que nos dão dados objectivos e que, deveriam ser a base de agendas políticas sérias que atacam fragilidades estruturais do nosso país. Afinal a juventude é o futuro, ou não passa de um slogan?
Almerinda Bento