SPGL denuncia discurso xenófobo no Parlamento e apela à defesa da escola como espaço de inclusão
O Sindicato de Professores da Grande Lisboa (SPGL), manifesta a sua profunda consternação perante os recentes episódios ocorridos na Assembleia da República, nos quais foram proferidos nomes de crianças com o claro propósito de alimentar uma retórica populista, demagógica e, sobretudo, o de encorajar sentimentos xenófobos e racistas.
Instrumentalizar crianças, que frequentam as nossas escolas, para construir uma narrativa que opõe os "nossos" aos "outros" representa não só uma violação ética inaceitável, uma inqualificável irresponsabilidade política, mas sobretudo um inenarrável atentado à dignidade humana. Atentado esse que, acompanhado de outros tantos a que temos assistido, poderão vir a constituir fatores potenciadores de atos de violência ou de Bullying de índole racial nas nossas escolas.
A escola por que lutamos todos os dias não se reconhece no preconceito, na exclusão ou no ódio. Advém, ademais, que a escassez de vagas nas nossas escolas - problema real e ao qual urge dar resposta - não se resolve com ataques à diversidade, mas antes com opções políticas claras e determinadas.
A banalização deste tipo de discurso, especialmente vindo de representantes eleitos, terá consequências trágicas para a nossa democracia. Se o cenário passar para o ambiente escolar, os efeitos serão devastadores. A escola é, e terá que continuar a ser, um espaço seguro, democrático e plural, onde a liberdade, o respeito pelo outro e a inclusão são prática diária. Nenhum combate político justifica expor, atacar ou humilhar crianças. Cabe-nos, enquanto sociedade que ascendeu à categoria superior de humanidade, garantir que todos, sem exceção, têm o pleno direito à educação, num ambiente seguro, alheio ao ódio, ao preconceito e ao rancor. Garantias essas que, de resto, se encontram explanadas na Constituição da República Portuguesa.
Enquanto organização que representa milhares de professores e educadores comprometidos com a justiça social e a solidariedade, o SPGL não poderia deixar de denunciar não só este episódio, mas também a forma torpe e degradante como têm decorrido algumas das sessões no Parlamento - onde a violência verbal e a falta de ética parlamentar se banaliza perigosamente. O que ali se diz e como se diz ecoa na sociedade e desagua, inevitavelmente, nas escolas. O Parlamento deve ser exemplo de todas as virtudes que defendemos e cultivamos nas escolas, não o seu oposto.
Proteger as crianças é proteger a democracia. A proteção de todos, em especial dos mais frágeis, é o que dignifica uma sociedade. É esta dignidade que reclamamos. Uma dignidade que não se compadece com o tom da pele, a religião, a forma de vestir, nem tão pouco com a origem etimológica de um nome.
O SPGL, como sempre, estará na linha da frente na defesa da Escola, tal como consagrada na Constituição da República Portuguesa, dos seus profissionais e de todas as crianças e jovens que nela aprendem e crescem. Não há educação sem respeito. Não há democracia sem dignidade.