Dos vendilhões do templo e outros pecadores
António Carlos Cortez, num artigo do DN de ontem, escreveu: “A Suécia proibiu o uso de tablets e de quaisquer suportes multimediáticos na escola, investindo 60 milhões de euros em livros e manuais; nós por cá insistimos nos tablets e demais parafernália tecnológica. Somos um país progressista, pois claro. Somos modernos, pois então!”
Um dos fundamentos da decisão do governo sueco exprime-se bem num artigo disponível on-line, no qual se refere:
“Vários estudos enfatizam que o formato em papel é melhor do que o formato digital em termos de aprendizagem da leitura, de acordo com o professor de Educação da Universidade de Barcelona, Enric Prats. "Sabemos que o que mais ajuda é a leitura em papel, calma, calma e se for acompanhada pela voz, melhor ainda", pontua.”
Já Michel Desmurget, no livro “Fábrica de Cretinos Digitais”, publicado em Portugal em 2021 pela Contraponto, apresenta diversos estudos científicos com base empírica que demonstram a inutilidade, ou mesmo o carácter pernicioso da utilização de meios digitais na aquisição de competências básicas nos alunos do ensino básico e secundário a várias disciplinas, em particular na língua materna e na matemática.
Apesar do acumulo de evidências científicas neste sentido, as escolas, os professores e os centros de formação continuam a sofrer uma enorme pressão para a introdução de mais e mais ecrãs na sala de aula, com particular destaque para os manuais digitais, independentemente do grande número de opiniões negativas de alunos, encarregados de educação e professores sobre a utilização deste recurso em completa substituição dos manuais físicos.
Se os encarregados de educação dos alunos das turmas abrangidas pela adoção de manuais digitais quiserem que os seus educandos não sofram prejuízos pelos efeitos da privação dos manuais em suporte físico, terão de pagá-los do seu próprio bolso, assim como as eventuais avarias dos PC atribuídos pelas escolas aos alunos após o términus das respetivas garantias.
Independentemente das dificuldades técnicas, que têm a ver com todos os problemas que se passam ao nível dos próprios PC`s e da disponibilidade de internet, muitos alunos preferem os manuais físicos, pelas dificuldades no uso prático e até apontam dores de cabeça e problemas de vista. Os professores e encarregados de educação reconhecem que não há como garantir se o aluno está realmente a dedicar-se ao estudo ou às atividades propostas, dada a facilidade com que se muda do manual para outras páginas on-line, sendo por todos assumido que o uso dos manuais digitais favorece a dispersão da atenção e as dificuldades de concentração.
Mas nada disto interessa a quem, algures, acha que o caminho terá se ser mais e mais ecrãs como receita para o sucesso educativo, os mesmo que, acredito, serão aqueles que verão as suas contas bancárias mais e mais recheadas.
Aja coragem para expulsar os vendilhões do Templo, colocando cada coisa em seu lugar e os superiores interesses dos alunos acima de tudo.
João Correia