A entrada dos novos professores no sistema educativo
Que Desafios e Respostas?
Joaquim Raminhos | Ex-Diretor do Centro de Formação de Escolas do Barreiro e Moita
Hoje, levantam-se novos desafios à Escola, em diversas frentes, quer em termos estruturais, quer no âmbito de dinâmicas relativas ao ato educativo, que são determinantes para que a Escola corresponda às expectativas dos alunos, da comunidade e da sociedade onde estamos inseridos.
A “entrada” de novos professores ao Sistema Educativo exige uma reflexão atenta sobre questões que se colocam em relação à prática docente, onde se entrosa a componente científica com as dinâmicas da componente pedagógica e que estão presentes em simbiose no decorrer do ato educativo.
Identificando o papel da Escola como um pilar fundamental no fortalecimento da nossa Democracia, para uma abordagem da educação e a formação dos nossos alunos enquanto cidadãos críticos e participativos na vida em sociedade, é incontornável dar respostas adequadas aos desafios que se colocam atualmente à Educação.
Perante os tempos de mudança em que vivemos, a cultura de escola a implementar deve corresponder à velocidade em que ocorre o conhecimento, tendo presente as fontes e os instrumentos de saberes que são disponibilizados aos nossos alunos.
É neste contexto que a Escola deve repensar a sua organização e a valorização dos seus recursos humanos, nomeadamente a preocupação em incidir na dignificação da profissão docente, de modo a que o ato educativo corresponda cada vez mais às necessidades e expectativas dos alunos, assim como ao bem-estar profissional dos docentes.
Conforme é referido na legislação de 2018, a escola da inclusão exige que o processo de ensino aprendizagem envolva toda a escola, de forma a que se possa responder aos diferentes ritmos de aprendizagem dos discentes.
Aos novos professores que agora estão a entrar no Sistema Educativo devem ser criadas condições que proporcionem a conjugação de todo o seu potencial de saberes e experiências profissionais com o entendimento e as exigências da cultura de escola de hoje, realçando-se as práticas pedagógicas e as relações interpessoais, que serão fundamentais para o exercício da profissão em pleno e para a implementação de uma cultura profissional docente.
Nesta perspetiva da mudança, que as escolas já atravessam, é fundamental que seja assumido pela comunidade escolar, o enquadramento e acompanhamento destes novos professores, através de um Plano que abranja o processo de supervisão e acompanhamento formativo, que assente no trabalho colaborativo e de parcerias, que levem a partilhas de experiências com os professores mais antigos na profissão, sendo esta interação que será fundamental em todo este processo.
No que concerne à componente da formação é muito pertinente referir-se a necessidade do entrosamento da Formação Inicial com a Formação Contínua de Professores o que requer todo um trabalho de cooperação entre os Centros de Formação de Associação de Escolas, Centros de Formação Profissionais e as Instituições de Ensino Superior.
É neste clima colaborativo e de entendimento que devem ser enaltecidas as comunidades de prática, dentro das escolas e entre as escolas, proporcionando-se a divulgação de diferentes projetos e um enriquecimento pessoal e profissional docente.
É neste campo de aproximação das escolas que os Centros de Formação de Associação de Escolas poderão ter um papel privilegiado, uma vez que já congregam os Conselhos de Diretores de Escolas das áreas geográficas a que pertencem, e que constituem um órgão unificador e facilitador do diálogo e das práticas.
A Formação Contínua adquire nesta temática uma importância primordial como um contributo para colmatar lacunas que existam e mesmo como complementaridade à Formação Inicial, levando ao delinear de um diagnóstico de necessidades e à elaboração de Planos de Formação, inseridos nos Projetos Educativos de cada Escola.
Não obstante as directrizes e apostas da tutela nestes últimos anos para a Formação Contínua dos Docentes – o que aparentemente nos pode fazer pensar que os Projetos escolares dos vários âmbitos serão fabricados como que em série – cada comunidade escolar é um universo próprio, com cultura e uma tradição próprias que retiram, necessariamente, da própria Formação Contínua, posturas profissionais, evoluções e impactos diferentes nos diferentes territórios educativos. Esta premissa faz com que a formação e envolvimento de novos professores, possa ser diferente, única mas de igual forma profícua, independentemente da unidade orgânica em que trabalhem.
A formação em contexto de trabalho será, precisamente, a opção mais acertada, assumindo-se a formação como a ligação estreita com as práticas docentes dentro e fora da sala de aulas e como fundamental para a relação entre a Escola e a comunidade na qual se insere, considerando a diversidade dos públicos-alvo que hoje povoam as nossas escolas.
Para estes “novos professores”, será essencial uma formação diversificada, que incida sobre a flexibilidade curricular, sobre competências sociais e de cidadania, sobre a multiculturalidade vivida nas escolas e na sociedade, sobre a escola inclusiva, sobre o trabalho colaborativo, sobre metodologias inovadoras facilitadoras da criação de climas de aprendizagem, que sejam motivadores e que incentivem os alunos às aprendizagens.
Em suma, estão colocados muitos desafios que permitem afirmar que os professores que estão agora a entrar no sistema educativo, não devem ficar entregues à sua sorte, e merecem todo o apoio e respeito, de forma a poderem cumprir a sua missão, com o sucesso desejado, o que contribuirá para elevar a qualidade da educação e levar os alunos a um real sucesso educativo.
Esta reflexão identifica-se com a exigência da qualidade da educação, da dignificação e valorização da profissão docente, para uma defesa da Escola Pública que seja consequente.
Texto original publicado no Escola/Informação n.º 310 | janeiro/fevereiro 2025