Sobre os Professores: Um título enganador?
Um artigo que pode ser lido no Expresso(“ on line”) do dia 17 deste mês tem como título “Professor português: salário acima da média, muito trabalho, pouco reconhecimento”. Ora se há modo de escrever que tem de ser particularmente cuidado são os títulos, que é muitas vezes só o que é lido. Neste título fica de imediato uma dúvida: qual é a média relativamente à qual o salário dos professores está acima? O corpo do texto esclarece: trata-se de uma comparação entre os salários dos professores e os da função pública (com as mesmas habilitações literárias) nos 10 países comparado). Não se trata, pois, de comparar os salários dos professores portugueses com os salários de professores desses países – um outro estudo recente concluía que, mesmo sem os cortes dos últimos anos, os salários dos professores portugueses estavam entre os mais baixos da União Europeia. A conclusão pode ser esta: a generalidade dos licenciados na administração pública em Portugal está mal paga relativamente à dos países analisados. O que é substancialmente diferente do que o título sugere.
Como o título também destaca, os professores sentem-se” pouco reconhecidos” e “pouco respeitados” pela sociedade, “sentimento” inseparável da desvalorização da escola que atravessa o nosso tecido social, fustigado por um lado por uma intolerável pobreza infantil e por outro por um elevado índice de desemprego que a frequência escolar não evita (mesmo que atenue). A compreensão do que se passa nas escolas e nos professores implica que, para lá do trabalho dos professores, se analise também o modo como o sistema se organiza: a gestão das escolas a autonomia pedagógica, os currículos, os espaços escolares… Tudo isto terá estado em discussão nesse mesmo dia no Conselho Nacional de Educação (CNE).
Leia o texto de Isabel Leiria e ,se puder, o estudo do CNE. A atitude crítica é sempre libertadora. Leia também aqui a reação do Secretariado Nacional da FENPROF.