Artigo:“O dia mais feliz” | 25 de Abril em cartas dos avós para os netos

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“O dia mais feliz”
25 de Abril em cartas dos avós para os netos

Lígia Calapez, Sofia Vilarigues | Jornalistas

A Associação de Pais da EB Sampaio Garrido, em Lisboa, decidiu assinalar os 50 anos do 25 de Abril envolvendo toda a comunidade escolar. Agora,  o fruto desse trabalho ganhou expressão num livro muito particular, que reúne cartas dos avós para os netos, alunos da escola. 

Neste processo, participou naturalmente a escola,  mas também muitas famílias, avós e crianças, potenciando um enriquecedor aprendizado mútuo.

Como é que tudo começou? Que caminhos seguiu este processo?

Foi na praceta em frente à escola, no mesmo local em que começaram a ser alinhadas as primeiras ideias para o projeto, que conversámos com Susana Ribeiro, presidente da Associação de Pais da EB Sampaio Garrido, e Ariana Couvinha, uma das ilustradoras do livro, mãe de duas crianças da escola.

Tudo partiu de um desafio lançado às famílias da escola, refere Susana Ribeiro: pedir aos avós que escrevessem uma carta aos netos, contando como é que viveram o 25 de Abril.

À medida que se foram recebendo as cartas, “começámos a perceber que estávamos perante testemunhos muito diversificados”. Mais ainda: “fomo-nos apercebendo de que estávamos perante a última geração que podia partilhar um testemunho vivo daquilo que tinha sido o 25 de Abril”.

Ficou então decidido avançar para a construção de um livro. Tarefa viabilizada também por se poder contar com a participação de pais artistas, designers, ilustradores e mesmo editores, o que permitiu orientar e concretizar a construção do livro. “O potencial humano, os recursos humanos estavam todos em casa. Estavam disponíveis”.

“O livro foi feito em total liberdade, desde a forma de escrever, desde como é que vamos editar, desde como é que vamos trabalhar os desenhos”, destaca Ariana Couvinha. Que salienta ainda o facto de  “serem conteúdos muito diversos, da vida de qualquer pessoa, que teve uma vivência normal”. Uma ideia também valorizada por Susana Ribeiro: “Para além das grandes figuras históricas, havia toda uma população a viver aquela mesma data e eu acho que este livro é muito sobre isso.”

A escola sempre presente

Houve envolvimento da escola desde o início, diz-nos Susana Ribeiro. Foram os professores, naturalmente, que lançaram o desafio e recolheram as cartas. E a cedência de espaços e de meios logísticos foi uma constante. “Sempre houve muito esse espírito de participação”.

Destaca-se, entretanto, um momento alto: a apresentação do projeto na escola, na semana do 1º de Maio e que envolveu uma exposição e a leitura das cartas.

“As crianças ficaram fascinadas”, diz Susana Ribeiro. “O 25 de Abril, a matéria do 25 de Abril eles nunca mais vão esquecer. Porque foi muito marcante”. Houve perguntas dos miúdos. Perguntas que revelam “que eles também cultivam o pensamento crítico quando lhes damos matéria para poderem pensar e questionar. E eu acho que isso foi um dos aspetos mais interessantes em relação aos miúdos, que é despertar esse lado crítico.”

E assim aconteceu um livro

São 52 cartas de avós aos seus netos. “Foi a escola toda. São 200 e tal famílias. Portanto, tivemos uma participação, enfim, de um quarto das famílias”, diz-nos Susana Ribeiro.

Cartas que contam histórias. De como era antes do 25 de Abril, da pobreza, do medo, da guerra. Do dia da Revolução e da felicidade. E do pós-Revolução, com as eleições e a Constituição. Histórias escritas na primeira pessoa, por quem as viveu.

Testemunhos de um avô Capitão de Abril, de outro que foi preso político, de quem desertou para não estar na guerra, do campo e da cidade.

O livro “O dia mais feliz”, conta com 11 ilustrações, de 10 ilustradores, “de estilos diferentes e abordagens diferentes”, diz-nos Ariana Couvinha. Tem um prefácio de Alberto Góis, artista plástico e professor na escola entre 1996 e 2023, e um posfácio de Ricardo Noronha, historiador e sócio da APEE da escola.

“É muito interessante toda esta experiência, porque eu acho que também foi uma descoberta para nós. E é uma descoberta para os miúdos porque estão a dar essa matéria” e esta “é uma forma completamente diferente” de a ver, diz-nos Susana.

Fizeram a inscrição do livro para o Plano Nacional de Leitura. Enviaram-no para o Museu do Aljube, para o Museu de Peniche, vão entregar à Associação 25 de Abril. As bibliotecas todas do agrupamento já têm um exemplar e “o livro foi muito bem acolhido no agrupamento”, diz-nos Susana. Está nas bibliotecas municipais e pretende-se que esteja nas outras bibliotecas escolares.

O livro “é da comunidade para a comunidade e é isso que o torna especial”, conclui Susana.

A APEE da E.B. Sampaio Garrido disponibiliza um email para informações e partilhas em torno do livro: cartasdosavos.25abril@gmail.com 

Ler excertos das cartas dos avós

Texto original publicado no Escola/Informação  n.º 312 | setembro/outubro 2025