Artigo:Nº 232 Outubro de 2009

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EDITORIAL
Dizem que a esperança é a última coisa a morrer

Dizem os jornais que dentro de 10 dias teremos governo. Saberemos então quem ocupará a pasta da Educação. E se continuará a divisão entre Superior e Não Superior. Não lhes darei conselhos, que certamente ele ou ela ou eles ou elas serão bem mais avisados que eu -caso contrário não seriam ministros. Mas nada me impede de lhe mostrar algumas preocupações e fazer algumas exigências - que sindicalista que não faça exigências não faz sentido.
Portanto, senhor ministro, ou senhora ministra:
- Não se esqueça que os professores são o coração da escola. Os alunos? Certamente que são muito importantes, mas o que faz uma escola ter boa qualidade é o bom trabalho dos seus docentes. Os pais? Esses são por vezes muito abusadores. A muitos subiu-lhes à cabeça o poder de mandar nos professores, de os avaliar, de os submeter- aos seus juízos infundados e acríticos. Maria Lurdes quis "empoleirar-se" neles para guerrear contra os professores. Com o resultado que se sabe. E não se esqueça que quase todas as escolas têm falta de auxiliares (eu sei que agora não se chamam assim, mas é para nos entendermos). A propósito: eles ganham tão mal! Não se poderá fazer mesmo nada por eles?
- A construção de uma escola pública de qualidade para todos tem de ser mais do que um "slogan" ou uma piedosa intenção. E para isso há que apostar no real sucesso dos alunos. Sublinho real sucesso. É que da antecessora ficou muito vincada a ideia de trabalhar mais para o sucesso estatístico do que para um verdadeiro sucesso educativo. E o sucesso dos alunos supõe professores dedicados, bem preparados, mas também respeitados. Maria de Lurdes pensou que nos vencia humilhando-nos: perdeu ela, perderam os professores, perdeu a escola.
- Saiba sr/srª ministro/a que receberá uma classe profundamente descrente, contando tristemente os anos que lhe faltam para a ansiada aposentação. Terá V. Exa de encontrar algo que lhe renove o ânimo, que lhe devolva o prazer de ensinar e de estar na escola. Não é fácil, mas aqui ficam alguns conselhos: suspenda essa coisa sem sentido do modelo de avaliação de desempenho dos professores e trabalhe com os sindicatos e com especialistas num modelo que valha a pena. Desafio-o(a) a estudar a proposta da FENPROF - não se deixe levar pelos ignaros impropérios da equipa que o(a) antecedeu. Racionalize os nossos horários: gastamos horas e horas nas escolas em intermináveis reuniões, em aulas de substituição que não servem para nada, em trabalhos chamados "de gestão" e burocracias do mesmo jaez.
- Saiba também que esta coisa de professores de 1ª (os titulares) e os de 2ª (simplesmente professores) não colhe. Não tem raízes, é um enxerto estranho na dinâmica das escolas. Não é fácil desfazer o novelo tecido por Maria de Lurdes? É uma questão de coragem, lucidez e bom senso. Conte com os professores.
Sinceramente, desejo-lhe boa sorte. Mas não se esqueça que a sorte também se conquista. Saiba V. Exa conquistar a alma dos professores - eles que são o coração da Escola. E não se esqueça: o papel dos sindicatos nesta tarefa é imprescindível. São um pilar insubstituível num regime democrático, são, com os professores e educadores, construtores do futuro.

António Avelãs