“Precisamos de refundar a Escola e precisamos de refundar o regime e os partidos políticos. Precisamos de uma estratégia para o país”, diz Santana Castilho na crónica inserida no “Público” de 9/12, “Portugal de cócoras”, que significativamente destaca em antetítulo: “A grande causa da nossa fragilidade reside na desigualdade social e económica entre os cidadãos”.
Pelo olhar crítico com que denuncia a lógica subjacente às actuais políticas – as solicitações do dinheiro - e pela importância que atribui às políticas educativas, aqui reproduzimos largos extractos dessa crónica.
Sinto-me soçobrado como nunca me senti. Olho para dentro e para fora para tentar compreender. Do olhar para dentro reservo as leituras, naturalmente. Do olhar para fora partilho convosco as perplexidades.
O acto final do Tratado de Lisboa reconduziu-me à Estratégia de Lisboa. Lembram-se da Estratégia de Lisboa? Lembramo-nos de poucas coisas. Esquecemo-nos rapidamente de muitas coisas. É a isto que nos conduz a efemeridade que os tempos modernos cultivam.
Os dirigentes da Europa reuniram-se em Lisboa, em Março de 2000, e definiram vários objectivos a serem atingidos até 2010, visando tornar a Europa na realidade económica mais competitiva do mundo. A educação e a formação ocupavam boa parte dos propósitos. Chegados ao momento da verdade, 2010 está aí, tudo falhado. Desolador! Palavras, propósitos atrás de propósitos incumpridos. E que propósitos são os da geração que governa? Tudo orientar para conseguir uma comunidade económica mais competitiva? Onde fica o homem integral? Para que serve a Escola? Para preparar pessoas ou simples instrumentos de uma economia global, desumanizada, injusta, egoísta, que nem os seus miseráveis propósitos, meramente instrumentais e consumistas, consegue realizar? Que independência é a nossa? Quem comanda os destinos do nosso sistema de ensino? Agências económicas globais, orientadas para resultados económicos, que desprezam as pessoas. Portugal não define as suas políticas educativas. Portugal está de cócoras frente aos senhores do dinheiro. Não está só, é certo.
(…) Formação ao longo da vida, formação em cima de formação? Para quê? Para que as pessoas compreendam melhor o universo que as rodeia? Para apurarem a sensibilidade como humanos? Para apreciarem a beleza do que resta? Para aprenderem a ser solidários? Não! Para responderem às solicitações do dinheiro.