Viver sob um vínculo precário
Adilson Freitas
| Investigador doutorado contratado a prazo na IPSFL IST-ID, Lisboa
Viver sob um vínculo precário é estar sempre a correr atrás da cenoura, sem nunca a conseguir apanhar
Viver sob um vínculo precário afeta-nos em várias dimensões. A primeira, mais óbvia, é em termos financeiros. Privamo-nos de qualquer autoindulgência, por mais banal que seja. Temos de poupar ao máximo para superar o período de tormenta entre contratos (onde me encontro agora) e para não sermos um fardo para a família. Vivemos numa constante incerteza, sem saber se no próximo mês poderemos comprar aquele livro técnico que tanto nos faz falta ou se teremos de empacotar as nossas coisas e emigrar.
Outra dimensão da precariedade é o impacto emocional. É muito complicado planear uma vida familiar, pensar em ter filhos, definir um lugar para viver ou criar vínculos. Hoje trabalhamos aqui, mas amanhã os nossos colegas serão outros. O facto de todos à nossa volta também serem precários cria, inevitavelmente, um ambiente competitivo, de desconfiança e individualista — justamente o oposto do que a investigação de qualidade deve ser. Soma-se a isso a frustração dos insucessos em obter um vínculo permanente. Começamos a questionar a nossa competência, pois estamos sempre em busca do aperfeiçoamento profissional, mas isso nunca parece ser suficiente. Viver sob um vínculo precário é estar sempre a correr atrás da cenoura, sem nunca a conseguir apanhar.
Texto original publicado no Escola/Informação Digital n.º 44 | novembro/dezembro 2024