Artigo:Vitória importante

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Vitória importante

Quando a extrema-direita norte-americana tentava invadir o Capitólio em Washington, a segunda volta das eleições para o Senado no Estado da Geórgia consumou-se com a eleição dos dois candidatos democratas, Jon Ossoff, e Rafael Warnock, que derrotaram os republicanos David Perdue e Kelly Loeffler. Os democratas não venciam neste Estado desde 1996, o novo senador Warnock foi o primeiro afro-americano a consegui-la, enquanto o seu colega de partido venceu, apesar de ter apenas 33 anos, o veterano republicano Perdue, um político experiente com 71 anos. Esta vitória deve-se sobretudo à mobilização eleitorado afro-americano, a Geórgia é o Estado com a segunda maior população negra do país, bem como dos jovens.

Tudo aponta para que se tenha iniciado uma nova fase política. Antes das eleições, os republicanos, que tinham uma maioria de 4 lugares, 52 contra 48, passam a contar com 50 senadores contra os mesmos dos democratas. No entanto, cabe à vice-presidente eleita e confirmada, Kamala Harris, apesar das ‘trumpalhadas’ no Capitólio, o voto de desempate com claras implicações políticas, de que destacamos duas:

- a possibilidade da nova Administração contrastar a maioria de juízes conservadores do Supremo Tribunal, 6 contra três, através da nomeação de novos juízes que poderão opor-se à supressão de importantes direitos democráticos, de que se destaca a interrupção voluntária da gravidez, que a atual composição deste órgão, com particular destaque para a juíza Amy Coney Barrett, uma católica fundamentalista nomeada por Trump e forte opositora desta medida, num ambiente favorável não deixaria provavelmente de levar por diante;

- a maior liberdade que a nova Administração desfrutará para implementar as políticas mais progressistas do seu programa – de que se destacam o acesso aos seguros de saúde para todos e a luta contra as alterações climáticas, ambas sob o forte ataque da anterior Administração – defendidas pela ala esquerda do Partido Democrático.

Em suma: os republicanos não poderão bloquear o programa do novo Presidente norte-americano, o que não significa que este tenha luz verde, já que no novo Senado uma parte dos senadores democratas situados mais à direita poderão eventualmente juntar-se aos republicanos para travar nomeações de alguns juízes considerados demasiado progressistas e propostas políticas com uma conotação social que desagrade ao eleitorado conservador de alguns Estados de maioria republicana. Apesar desta eventualidade, uma coisa é certa: inaugurou-se um novo ciclo que poderá reverter muitas das medidas desastrosas no plano ambiental e social de uma Administração de extrema-direita deposta de democraticamente.

Joaquim Jorge Veiguinha