Artigo:Vale a pena apostar na Cultura?

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Vale a pena apostar na Cultura?

Em 2019 - o 25 de Abril fez 45 anos assim como o "nosso" sindicato - o SPGL.

Neste âmbito o departamento pensou organizar uma sessão sobre  CULTURA, uma área tão valorizada pela "Revolução dos Cravos" e tão importante para nós, professores.

É neste âmbito que, no próximo dia 20 de maio, vamos ter connosco uma Mulher da Cultura e do Teatro - Fernanda Lapa. Iremos conversar sobre - "Vale a pena apostar na Cultura?".

Será no Espaço ABC, o espaço da Cultura.

Contamos sempre convosco.

Ver Vídeo da iniciativa

A 20 de Maio de 2019 realizou-se a última sessão do projeto “O Meu Livro Quer Outro Livro” com a presença de Fernanda Lapa.
Helena Gonçalves abriu a sessão com a informação da situação sindical nomeadamente sobre o plano europeu das pensões sociais, chamando a atenção para os riscos associados e inevitáveis de que os futuros reformados serão vítimas, remetendo toda a informação para o documento distribuído na sala.
António Avelãs apresentou, de seguida, o tema da sessão “Vale a pena apostar na cultura”, proposto por Fernanda Lapa, enfatizando a atual desvalorização da cultura e as suas reais consequências.

Fernanda Lapa iniciou a sua brilhante apresentação, começando por descrever que o caminho da cultura lhe foi dado através da leitura que a apaixonou desde criança e que a levava a imaginar os lugares, personagens e ações, como se ela própria as vivenciasse.
Questionando o sentido da cultura se erudita, se popular, conclui que a cultura estará sempre relacionada com o pensamento. O pensamento racional, intelectual, mas também o emocional. Referiu o panorama atual de ataque à cultura, nomeadamente pela informação toxica que emana dos canais de comunicação e redes sociais com consequências nefastas e preocupantes, sobretudo no que respeita aos jovens. Chamou então a atenção para o importante trabalho dos professores junto dos seus alunos no sentido da preocupação maior, para além dos programas escolares, ser a de ensinar a pensar.
O seu percurso como professora, como atriz e como encenadora foi transmitido à assistência através da projeção de uma apresentação de imagens que acompanhou a sua dissertação cronológica em que foram lembrados e referidos nomes como Bernardo de Santareno, Artur Ramos, Fernando Amaro, Ricardo Ribeiro, entre outros que de várias formas contribuíram para a sua carreira na arte da representação.
Não tendo, à época, frequentado o Conservatório que apenas exigia um baixo grau académico, ingressou na Faculdade de Letras integrando o grupo de teatro. Bernardo de Santareno teria uma importância decisiva na sua opção pelo teatro, através da orientação escolar a que recorreu no então Instituto de Orientação Escolar onde Bernardo de Santareno trabalhava. Passou depois para o Instituto Superior de Serviço Social, tendo trabalhado com cegos vítimas da guerra colonial.
Fernanda Lapa prosseguiu a descrição da sua longa, rica e multifacetada carreira que desde 1963 até aos dias de hoje, foi pautada culturalmente pela direção do Departamento de Artes Cénicas da Universidade de Évora, pela presença em palcos como atriz, pela formação de atores na Escola Superior de Teatro e Cinema, Escola Profissional de Cascais  pela encenação e, a partir de 1995, como diretora da Escola de Mulheres – Oficina de Teatro.
Explicou então o sentido da criação do projeto que fundou com Isabel Medina. Após um estudo realizado haviam concluído que a percentagem de mulheres a dirigir companhias de teatro era perto dos zero por cento. Mulheres a encenarem sozinhas não existiam. Havia muitos mais textos com papéis para homens, além de que os textos tinham pontos de vista masculinos. De resto, as mulheres no teatro, enquadravam-se em coisas como o secretariado e o guarda roupa. Daí o desejo de privilegiar e dar visibilidade ao trabalho feminino e de poder escolher sem estar à espera de ser escolhida, com a recordação ainda presente, de ter vivido num país onde chegou a ser proibido as mulheres representarem.
A passagem dos slides na apresentação ofereceu-nos, passo a passo, o ritmo, a intensidade e a riqueza do trabalho da Fernanda Lapa.
Durante o debate, com intervenções de Leonoreta Leitão, Maria José Maurício, Dolores Parreira, Manuela Vale, António Avelãs, Maria João Vale, Natália Bravo, entre outros, falou-se das dificuldades económicas dos grupos de teatro, do papel dos professores na transmissão da cultura, do grau de interesse dos jovens pelo Teatro e pelas várias vertentes da cultura e no medo da cultura.  

No fim do debate, foi apresentado por Leonoreta Leitão, o livro de troca, “As boas intenções” de Augusto Abelaira e apresentado o livro-projeto de Fernanda Lapa “Escola de Mulheres – Oficina de Teatro 23 anos” adquirido por muitos dos participantes.