Artigo:União Europeia: os sucessos, as misérias, o futuro - uma questão que a todos diz respeito

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União Europeia: os sucessos, as misérias, o futuro - uma questão que a todos diz respeito

Como seria de esperar, a comunicação social de hoje, 10 de maio de 2021, continua a discutir a União Europeia. Não só porque ontem se celebrou mais um “Dia da Europa”, mas sobretudo porque no fim de semana decorreu no Porto a Cimeira Social Europeia. No Público podemos encontrar três artigos de opinião diretamente sobre o assunto e um quaro que indiretamente lhe diz também respeito. Do lado dos otimistas, destaca-se o editorial de David Pontes (pg 4) sublinhando a “utilidade” da UE de que seriam prova “a assinatura da Declaração do Porto, que assume o desafio de estabelecer metas para o pilar social da política europeia” e ainda a resposta conjunta ao combate da pandemia e as verbas europeias para o combate à crise económica. Tudo “cor-de-rosa”. Um otimismo mais crítico surge no artigo de Rui Tavares, na última página. Depois de confrontar as declarações de Catarina Martins, para quem “a Cimeira Social foi uma profunda desilusão” com as da dirigente do Podemos, Yolanda Diaz para quem “ (…) É hora de nos reinventarmos com um novo olhar: um europeísmo que dialogue com a esperança, com a igualdade e com um futuro para a juventude “sublinha que “a falta de ambição na Europa não é só uma questão de liderança: é também uma questão do grau de exigência que a cidadania europeia impuser a essa liderança”-

Mas a novidade surge na posição radicalmente crítica de António José Seguro, ex-secretário geral do PS, “destronado” por António Costa: “ os líderes europeus estão a matar lentamente a Europa, caminhando para a irrelevância política mundial”, não correspondendo  “a nenhuma concepção de Europa, resumindo-se a uma mera luta entre Estados pelo poder interno da Europa”. (pg 8)

O artigo de Vítor Ramalho (pg 4), “Um grito de alerta,” não pode ser dissociado da natureza da UE e das consequências da adesão de Portugal. Lamenta o autor que, 47 anos depois de Abri, “Dos mais de 90% de capital nacional que detínhamos na banca ficamos com menos de 10%”. E desindustrializamo-nos, depois de “vendermos sectores industriais estratégicos a capitais estrangeiros”. Apetece perguntar se “isso” não foi condição “sine qua non” da integração do país na EU.

Por mim, é conveniente não esquecer que esta UE que se reclama de solidária, agrediu miseravelmente Portugal, impondo-lhe uma política de austeridade que mais não fez do que acentuar as desigualdades sociais interna e externamente. Castigou-nos inventando que vivíamos acima das nossas possibilidades, como se as raízes da crise não radicassem na necessidade de salvar os bancos perante a falência dos gigantescos bancos e seguradoras norte-americanos e a crise do Euro que isso provocou. Os responsáveis por essa agressão vêm agora reconhecer que a solução imposta não foi justa nem funcionou… Num momento difícil para o país, a UE não foi solidária, antes fez questão de nos castigar. E se Portugal foi vítima de trato injusto, que dizer do trato de polé que a UE impôs ao povo grego? E como conciliar a declaração de uma UE mais justa, com um pilar social forte e efetivo, com as políticas económicas de um radical neoliberalismo dominante?

António Avelãs