Uma prisão a céu aberto
É impossível ficar indiferente ao saque das terras e ao genocídio do povo palestiniano perpetrado por Israel desde 1948. Indiferente às resoluções da ONU e às manifestações de solidariedade com o povo da Palestina, a arrogância dos governos israelitas sempre apoiados pelos EUA têm tornado a vida dos palestinianos numa prisão a céu aberto.
Socorro-me das notícias de José Manuel Rosendo, um jornalista de causas que tem dedicado toda a sua vida, no terreno, a relatar o que se passa em territórios em conflito, de entre os quais os países do Médio Oriente e a Palestina e a faixa de Gaza em particular. Transcrevo parte de um post recente de José Manuel Rosendo, no seu facebook: “Na origem da violência a que estamos a assistir está a brutalidade das forças de segurança israelitas contra os palestinianos que celebravam o fim do Ramadão na esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, e a ameaça de despejo de famílias palestinianas no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental. Antes destes acontecimentos já a Autoridade Palestiniana tinha decidido adiar as eleições legislativas por Israel não autorizar a votação dos palestinianos que vivem em Jerusalém oriental. Foram estes ataques israelitas que levaram o Hamas a atacar território israelita. Isto é, foi o Hamas que respondeu aos ataques israelitas e não o contrário. Não foi Israel que respondeu aos ataques do Hamas. Quanto ao direito de defesa, há ainda uma pergunta adicional que sempre fica fora dos debates em detrimento da análise do momento, mas que é o "pecado original" deste conflito: um povo que vive sob ocupação, a que defesa tem direito? Deve fazer o quê? Aceitar e calar? Esperar apoio de uma "comunidade internacional" que faz discursos bonitos, apela à paz e ao calar das armas, mas nada faz para garantir que a Lei Internacional e as resoluções da ONU sejam cumpridas? Deixo um alerta: será bom que ninguém tresleia estas palavras e veja nelas um apelo à violência. Antes de qualquer comentário peço que seja feito um exercício: coloquem-se por uma vez (como se tal fosse possível...) na pele de um palestiniano a quem expulsaram de casa, a quem é imposta a passagem por postos de controlo onde é humilhado, a quem é recusado um Estado, a quem já foi preso por tempo indeterminado e sem culpa formada, a quem recebe promessas nunca cumpridas, a quem não tem perspectiva de futuro. E já nem é preciso tentar imaginar o sofrimento de uma vida a olhar para o céu tentando adivinhar a próxima bomba. Isto dura há décadas e marcou gerações. Depois desse exercício (que pode ter muitas outras variantes), digam então como reagiriam e a que tipo de defesa se julgariam com direito.”
Só na última semana, contam-se 200 mortos, dos quais 50 crianças. Os números são chocantes, mas mais chocante ainda é que são pessoas que morreram numa guerra sem fim. O telefonema de Biden para Netanyahu foi uma mera cortesia. Não se passou nada. Netanyahu avisa que os ataques “vão levar tempo” e com “força total”. Que papel tem a União Europeia em todo este conflito? A presidência portuguesa da União Europeia não serve para nada?
Almerinda Bento