Uma narrativa inenarrável.
Num dia em que vamos ficar a saber se há condições para continuar o plano de desconfinamento do governo e após termos sido alertados, ontem, no relatório Caminho para o Conhecimento 2021, da OCDE, que por cá a pandemia está "a afetar desproporcionalmente todos os que tem contratos de trabalho não convencionais e deverá aumentar as desigualdades", coisa que já tínhamos percebido há muito tempo, e dois dias depois da apresentação de um estudo sobre a Pobreza em Portugal, da FFMS, que confirma existirem 1.7 Milhões de portugueses a viver abaixo do limiar de pobreza, dos quais 32% são empregados, o que nos recorda um outro estudo sobre este mesmo assunto da autoria de Bruto da Costa que, muitos anos antes, tinha concluído algo muito semelhante, e alguns dias depois de o FMI, só a sigla assusta, ter alertado que este pobre Portugal pode ser uma das principais vítimas da instalada crise em que estamos atolados, eis que surge a entrevista.
Como se não nos bastasse já o desfecho de dia 9 de Abril, somos agora bombardeados com livros de interesse, e rigor suponho, duvidoso e entrevistas despudoradas em horário nobre da TVI. A argumentação em que assenta a sua defesa para além de inverosímil é delirante e infantil.
O ex primeiro ministro continua, com as suas publicações, entrevistas e declarações, a prejudicar de forma indelével a democracia Portuguesa e, em particular, a abandalhar e a banalizar os princípios estruturantes da esquerda democrática.
Por muito que o afirme este senhor não é de esquerda.
Fez bem o PS, pela voz de Medina, em se demarcar de semelhante figura.
Num país com tantos e tão graves problemas, particularmente para os mais desfavorecidos, a narrativa da perseguição política e, especialmente, a do amigo que insiste em investir na sua educação, se não fossem tão pueris e lamentáveis num adulto com a sua responsabilidade ( será?), dariam, pelo risível, para desanuviar um pouco o insalubre clima em que vivemos.
Ricardo Furtado