Artigo:Um sindicalismo ao serviço dos trabalhadores

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No seu suplemento de economia do passado dia 21 de Setembro, o “Expresso” publicou um artigo de Luis Marques (LM). Esse artigo reflecte uma concepção preconceituosa, assente numa visão dualista da sociedade, em que os trabalhadores (aqui representados pelos sindicatos) seriam os parentes pobres, subservientes, obedientes, sem voz e sem direito ao espaço público mediatizado, onde se discutem ideias e propostas e se formam as posições políticas e sindicais em democracia.

Ao lermos este texto, eivado de preconceitos e um saudosismo mal disfarçado, não se entende a referência a um sindicalismo “de fato de macaco”. Será que para o autor tal significaria um “sindicalismo” obediente ao “chefe”, embrutecido e sem apetência pelas coisas da política? Que aos trabalhadores era recusado o direito à opinião, à intervenção, quais peças de máquina, e aos sindicatos competia colaborar com o sistema, cabendo aos ideólogos do regime, a esses sim, pensar, discutir e decidir por todos? Na altura, falar de liberdade, democracia e do respeito pelos direitos do ser humano, era crime. Associar estes objectivos à criação da Intersindical, em 1 de Outubro de 1970, resultava em perseguição, repressão e prisão garantidas. Antes, era assim. Agora, em alternativa ao silêncio, opta-se pela deturpação, a mentira, a injúria e a calúnia. Tudo serve para tentar salvar a política da direita, os interesses dos detentores do poder económico e financeiro e os privilégios dos que andam na órbita do poder.

Refere LM que os sindicalistas hoje sabem falar à comunicação social e “opinam sobre tudo e sobretudo”, claro está! E falam “sobre a troika, sobre a Merkel, sobre o défice” e até sobre a “guerra na Síria”. Qual é a dúvida? Será que perante uma política que instalou a calamidade pública no país e o tornou ainda mais desigual, empobrecido e endividado, os sindicalistas da CGTP-IN tinham que ficar calados e não denunciar as causas e os respectivos responsáveis da situação? Aliás, não nos limitamos a criticar. Apresentamos propostas, verdadeiras alternativas, nas diferentes áreas: das finanças públicas à economia; das questões laborais às sociais. Propostas que, curiosamente, nunca mereceram a atenção do “Expresso”, ao contrário do que aconteceu com outros órgãos de comunicação social.

Mais, os sindicalistas são ainda criticados por cometerem a heresia de se pronunciar contra as guerras e de condenarem as grandes potências pelas agressões militares que sistematicamente promovem contra povos e países, para reforçarem as suas posições geoestratégicas e darem sequência ao saque dos principais recursos naturais. Os sindicalistas falam destes temas porque sabem que a guerra, continuando a ser um grande negócio para alguns, é a mortandade para a generalidade das populações visadas.

Diz ainda LM que os sindicalistas “são profissionais do sindicalismo”. Vamos ver melhor: se por profissionais se entende que eles desempenham as suas funções com competência, teremos um elogio que se dispensa; mas se por profissionais quer significar que é este o seu vínculo laboral então o articulista não tem razão: os dirigentes sindicais são eleitos regularmente pelos trabalhadores sindicalizados, no respectivo âmbito, e mantêm os vínculos contratuais com as respectivas empresas, onde podem regressar a todo o tempo ou conciliar o tempo da actividade profissional com o da actividade sindical, conforme os casos. É assim com os dirigentes citados no artigo em questão, assim como todos os outros que integram a CGTP-lN.

“Quem é esta gente”, pergunta LM. É gente séria que defende os direitos dos trabalhadores e colocam os interesses destes acima dos seus interesses pessoais. É gente que continua a viver com os mesmos salários que os colegas de trabalho recebem. Coisas difíceis de entender em tempos de busca do enriquecimento fácil. São pessoas simples, que gostam do seu país e que defendem uma sociedade justa e não discriminatória.

“Ninguém sabe quem é o líder sindical dos metalúrgicos” ou dos “operários têxteis”, diz o autor. É caso para dizer que só não sabe quem não quer, mas os trabalhadores destes sectores sabem e têm respeito por eles. Aliás, se estivesse interessado em os conhecer, saberia que são pessoas honradas, lutadoras e empenhadas na resolução dos problemas dos trabalhadores e do país e que, frequentemente, dão conta desse trabalho à comunicação social, designadamente ao “Expresso”, que, sistematicamente, o ignora. A ausência de matéria laboral neste jornal, que há muito não inclui qualquer referência ao trabalho e à luta sindical, está, agora, melhor percebida.

Finalmente, os sindicalistas são incomodativos, o que é um grande aborrecimento para algumas pessoas, que até acham que os sindicatos fazem muita falta, desde que reverenciem o poder. Não se estranha por isso que LM tenha eleito como protagonistas do seu artigo apenas e só os sindicalistas da CGTP-IN. Ao fazê-lo acaba implicitamente por reconhecer que a subserviência ao poder é algo que não se compadece com este projecto sindical. Porque os sindicalistas da CGTP IN acreditam, e por isso continuarão a lutar, sem receios, por uma sociedade onde todos os cidadãos tenham os mesmos direitos, onde não haja discriminações em razão da condição social e económica, incluindo no acesso aos média. Por último, convidamos LM, assim como o “Expresso”, a estarem mais atentos às iniciativas que a CGTP-IN promove nos locais de trabalho e nas ruas. Se o fizerem, não deixarão de dar destaque, nomeadamente às Marchas “Por Abril; contra a exploração e o empobrecimento” que vamos realizar no dia 19 de Outubro, na Ponte 25 de Abril, em Lisboa, e na Ponte do Infante, no Porto.

 Lisboa, 2 de Outubro de 2013