Artigo:Um senhor chamado Rosalino…

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 rosalino - duas de letra - 01out13

 

 

Maria de Lourdes dos Anjos

Há quanto tempo não vejo o meu amigo, o senhor Rosalino. Tenho saudades das suas

gargalhadas francas, do seu sorriso contando a sua meninice atribulada, das suas estórias

familiares repartidas entre cinco mulheres de luta e garra (sogra, cunhada, duas filhas

maravilhosas e, é claro, a sua Emília).

Lembro as festas para as quais me convidava e onde me sentia tão bem, tão verdadeiramente

em “família”. Sei que, com alegria, me confiou as suas meninas, a Manuela e a Ana, sabendo

que estavam em boas mãos e tenho a certeza que ainda hoje, se fala de mim com muito

carinho, na casa do senhor Rosalino.

Eu recordo este amigo, com ar jovem e feliz, ao balcão da sua drogaria em S. Pedro da Cova,

falando de tudo com toda a gente. Sabia toda a psicologia da vida, todas as malandrices dos

menos honestos e era dono do sonho de menor desigualdade nesta terra hoje ainda

nossa…mas já pouco nossa!

Claro que falo do meu amigo de esquerda, com direito à liberdade, e com um

coração enorme bem no centro do seu percurso de vida. Homem bom e de bem.

 

 

 

O outro Rosalino, quase careca, mal-encarado, mentiroso, e desonesto quanto baste, não

conheço, não sei de onde veio nem para onde vai mas eu, eu sei que não vou na cantiga dele.

 

 

alibaba - duas de letra-01out13

Faz parte de uma pandilha que se esqueceu que os servidores do estado eram isso

mesmo, servidores. Tinham vencimentos de miséria eram obrigados a assinar a declaração

vinte e sete mil e três, estavam proibidos de fazer perguntas ou reclamar. Tinham uma coisa

rara para o tempo, que era um diploma de habilitações escolares e, se eram uns sortudos a

quem a vida dera um curso, ganhavam quatro vezes menos no público do que no privado.

 

Qualquer cidadão que fosse porteiro num banco ou numa companhia de seguros ganhava

muito mais que um professor.

 

As coisas mudaram um pouco durante a primavera marcelista, por volta de 1972, mas só

depois de abril, com os escalões aplicados nas remunerações dos professores, polícias e outros

funcionários os ordenados subiram de forma que “se visse”.

 

Quando a idade da reforma chegava, ela dava um salto porque se deixavam de fazer

descontos para a ADSE e para a CGA…Mas, atenção, todos ficavam sem aumentos durante seis

anos até que as pessoas no ativo tivessem salários iguais às reformas atribuídas.

 

Agora aparece nas varandas engalanadas da TV, um tal Rosalino, quase careca, mal-encarado,

mentiroso e desonesto quanto baste, tentando transformar em salteadores os servidores

desse Estado que já não é nosso, tentando guerras intestinas entre velhos e novos,

desempregados e trabalhadores, públicos e privados, enfim, entre gente da mesma terra mas

com tempos tão distantes e realidades tão diferentes.

 

 

Sabia estas coisas, senhor Rosalino!?Sabe o que é trabalhar senhor Rosalino!? Olhe meu rico

senhor, comecei a trabalhar em 1968 e o meu vencimento eram mi oitocentos e três escudos,

depois, para terem professores nas escolas passaram o vencimento para dois mil setecentos e

três escudos ( ainda bem que nunca , nas finanças, me tiraram os três… escudos do salário).

 

Agora estes Alibabás, de repente, tiram-me tudo o que eu queria que fosse para ajudar os

meus netos, para pagar as fraldas da minha mãe e as minhas, claro.

Ó senhor Rosalino, dê um saltinho até S. Pedro da Cova, pare na drogaria do senhor Lino,

na mó, ouça o que esse outro Rosalino sabe da vida, veja a realidade do povo que é gente,

conheça pessoas honestas e depois vá dormir um sono.

Olhe, cresça e apareça!

Sabe, até me apetecia chamar-lhe um nome feio mas não quero ofender a senhora sua

mãe! Passe bem…

    

professora - duas de letra - 01out13

 

VESTIR O SONHO

 

 

Na minha madrugada florida,

Parti sorrindo à procura da vida.

Nas mãos levava um ramo verde de alegria

E, na alma, a festa de gostar do que fazia.

Encontrei caminhos tristes

E meninos sem sorrisos

Cristos de carne e osso

E santos vivendo infernos.

Contei anos e anos de invernos

E perdi a conta das desilusões.

Procurei armas para fazer a guerra

E semeei lágrimas em árida terra

Corrigi provas, testes e exames

Fiz letras, problemas e frações

Falei de paz, de vidas, de religiões

Aprendi muito mais do que ensinei…

Fui feliz dando a cada criança

As letras douradas da palavra ESPERANÇA

Hoje, recordo saudosa, aquela primeira hora

Que numa bata branca, vesti o sonho de professora

in NOBRE POVO