Um outro Davos, menos ganancioso
O que têm em comum o ator Mark Rufallo, a herdeira Abigail Disney e o milionário Phil White?
Porque felizmente Davos não é só o WEF, um grupo de cerca de 200 multimilionários de 13 países manifestou-se junto do Fórum para exigir que as suas riquezas, provenientes de diversas actividades, passassem a ser taxadas de forma socialmente justa pelos governos dos países a que pertencem e que o mesmo passasse a acontecer em todos os países e a todos os multimilionários do mundo.
Phil White afirmou que “Ficaria muito feliz por pagar mais impostos, quero que o meu governo me taxe a mim e a pessoas como eu”
Propõe que se comece por aumentar 1 ou 2% ao ano a taxa sobre fortunas a partir de 4 ou 5 milhões de dólares.
“Os governos deveriam tributar a riqueza para reduzir as desigualdades”
A este propósito, a ONG Oxfam revela que, desde 2020, a riqueza combinada dos bilionários aumentou 2.7 mil milhões de dólares por dia.
2.7 Mil Milhões de Dólares por Dia.
Estes valores, a todos os níveis inadmissíveis, desumanos e, por isso, insustentáveis em sociedade, têm sido suportados em parte por margens de lucro e taxas de inflação e de juros abjectamente especulativas e, também em parte bastante significativa, por um acentuado decréscimo da remuneração do trabalho.
Aqui ao lado, em Espanha, fala-se em ganância para explicar a avidez pelo lucro.
A Ministra Ione Belarra, dos Direitos Sociais, chamou “capitalista sem piedade” ao dono da Mercadona, acusando-o de “encher os bolsos” aproveitando a crise.
“É indecente que as grandes empresas de distribuição em Espanha, que supermercados como o Mercadona ou o Carrefour, ganhem muito dinheiro com a crise económica que resultou da guerra da Ucrânia”.
Onde é que já ouvimos isto.
Sintomático e revelador, mas muito menos surpreendente, foi também a forma como o visado dono dos supermercados justificou o lucro excessivo e a acumulação desmedida de riqueza; “Somos nós quem cria riqueza”, sendo “nós” os empresários que, aliás, exorta a que “saiam do armário” e se sintam orgulhosos.
Como é óbvio, não consta que Juan Roig faça parte dos milionários adeptos de uma tributação justa da riqueza e será, com certeza, um acérrimo defensor de uma impunidade fiscal da avareza.
Lá como por cá, há sempre a tentativa de alguns, sempre os mesmos e com os mesmos propósitos, de retirar o trabalho e os trabalhadores da equação, do algoritmo, da criação de riqueza.
Enquanto isso, e por isso, soubemos por estes gélidos dias que perto de 2 milhões de portugueses vivem em situação de pobreza energética moderada e mais 700 000 em pobreza energética severa. 88% diz passar frio em casa.
Terá a riqueza estratosférica de alguns algo a ver com o frio de que os portugueses não se conseguem libertar?
Ricardo Furtado