Um futuro assente em comunidades intergeracionais
De âmbito local, o jornal Público traz hoje um artigo de Ana Bacelar Begonha sobre o projeto fazer do Bairro a Nossa Casa. As promotoras deste projeto: Sílvia Cardoso e Kitti Baracsi têm como objetivo juntar crianças e idosos no bairro da Penha de França em Lisboa.
Pretende-se desta forma criar “uma rede de solidariedade intergeracional” para “combater o isolamento de grupos vulnerabilizados”. Acrescentam as autoras do projeto que este “surgiu a partir de conversas com residentes do bairro, em que se aperceberam de que a desconexão entre camadas da comunidade local estava muito pior do que antes da pandemia (…). Isto tanto ao nível das crianças, que tal como os seus filhos ainda estão na escola, mas passaram por vários períodos de ensino em casa, como ao nível das pessoas mais velhas que deixaram de ter contactos diários ou redes de apoio que as auxiliem com problemas do dia a dia”.
A importância de crescer em ambientes intergeracionais terá motivado uma das autoras do projecto alegando que: “Essa experiência intergeracional contribuiu para a sua formação e deu-lhe outra visão do mundo”. Por outro lado, Kitti Baracsi também faz referência à falta de apoio familiar, à ausência de contacto com os avós da sua filha. Refere ainda que durante a pandemia forma reduzidos os contactos e a interação com pais de alunos, por exemplo.
O projeto está em desenvolvimento “desde 27 de janeiro com workshops e foi lançado um concurso de ideias que decorrerá até 20 de março e conta com o financiamento de uma bolsa do Atlantic Institute, uma rede internacional de activistas que trabalha contra as desigualdades sociais.”
A organização social, principalmente em meios urbanos, pressupõe que diversas camadas da população se encontrem estruturadas e “arrumadas”, entre outras, por faixas etárias e raramente há encontros e vivências intergeracionais. Por um lado, crianças e jovens estão nas escolas e depois em inúmeras actividades, por outro lado as pessoas mais idosas estão em instituições ou nas suas residências e, muitas vezes, devido a condições de habitabilidade e mobilidade ficam isoladas. Criar espaços intergeracionais e torná-los lugares de convivência e aprendizagem pode contribuir para um crescimento de partilha, de interação e de vivência em comunidade com ambientes dos quais pessoas mais velhas e mais novas poderão beneficiar.
Formas de vida e modos de estar intergeracionais deveriam pautar os quotidianos, no entanto, para tal seria necessário alterar a organização social, a organização laboral, entre outras, por forma a que fosse dada prioridade a um tempo de coexistência em vez de um tempo de competição. Projetos pontuais com delimitação temporal terão importância, mas poderá voltar tudo ao mesmo quando deixar de existir financiamento que os sustentem.
São necessárias opções políticas de transformação e organização social que consigam implementar respostas intergeracionais das quais todos/as possam beneficiar.
Albertina Pena