Artigo:Tutor virtual não substitui a humanidade de um professor

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Tutor virtual não substitui a humanidade de um professor

Jorge Humberto | Dirigente SPGL

A falta de professores tem originado situações de recurso questionáveis como o uso da Componente não Letiva ou o desvio de funções de docentes de apoio, LPNM e educação especial, para a lecionação de grupos disciplinares de origem. 

Esta situação diminui as respostas no âmbito da inclusão e do apoio específico à diversidade, deixando os apoios específicos essenciais à inclusão cada vez mais desfalcados.

Incapaz de resolver a enorme falta de recursos humanos nas escolas portuguesas, o MECI deita mão de todas as possibilidades que evitem ter alunos em casa ou nos recreios das escolas, com custos de desigualdade para os alunos mais vulneráveis.

Coincidência, ou não, um ministro anunciou na Websumit que cada aluno terá um tutor de IA que “ouve, orienta e inspira a aprendizagem”. Este deslumbramento desinformado sobre o papel de um professor vai contra as teorias do desenvolvimento humano, especialmente se for visto como solução para a falta de professores. 

Países que inicialmente apostaram no digital na educação, estão a retroceder. Na pandemia foi clara a desigualdade criada no acesso a tecnologia e a desvantagem entre alunos. Sabe-se hoje que um écran não ajuda no foco, no tempo nem na organização cognitiva e que escolas sem telemóveis apresentam vantagens em relações sociais.

Existe o perigo da gamificação da aprendizagem, da exposição de crianças e jovens à internet, da massiva recolha de dados pessoais e sua utilização descontrolada, bem como a falta de transparência e neutralidade dos algoritmos, que tendem a reproduzir desigualdades e vieses culturais.

A Educação não abrange apenas mecanismos transmissivos automatizados, é promotora de capacidades cognitivas e também contexto social, emocional e ético.  A ideia de substituir pessoas, compromete aspetos fundamentais como a interação mediada, a construção ativa de conhecimento, o pensamento crítico, a autonomia do aluno e a sua formação integral. Torna-se uma operação técnica desprovida de sentido social, essencial para promover capacidades de pensamento crítico, autonomia, empatia e criatividade.

O desenvolvimento humano é um processo dinâmico, contextual e multidimensional. As interações sociais e o contexto de aprendizagem, são muito mais importantes do que uma aprendizagem concreta em si mesma. 

A IA em Educação é um perigo em mãos desavisadas, para uma geração que necessita urgentemente de processos de aprendizagem envolventes, com significado e gerados no seio de relações de qualidade. 

Texto original publicado no Escola/Informação Digital  n.º 47 | novembro/dezembro 2025