Artigo:“Trabalhadores clandestinos da construção no centro do combate” (ao coronavírus)

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Uma espécie de boomerang

“Trabalhadores clandestinos da construção no centro do combate” (ao coronavírus)

Não é que não o suspeitássemos já. Mas o texto de Luísa Pinto nas páginas 2 e 3 do Público de hoje, 29 de junho, reforça a informação, que se transforma numa amarga acusação a todos nós. Tudo indica que um dos polos de difusão da contaminação pelo novo coronavírus é o enorme número de trabalhadores “informais” na construção civil. Informais quer dizer que não têm contrato de trabalho com a empresa onde trabalham. Podem nem sequer ter nenhum contrato. Na melhor das hipóteses são contratados por empresas de trabalho temporário. À jorna. Mudando por vezes diariamente de empreiteiro para empreiteiro. Superexplorados. Sem direito a estar doente, porque se não trabalharem não ganham o dia. Na sua maioria africanos, asiáticos e de um ou outro país do leste europeu. Tipo escravos do nosso tempo.

Pois é, nós até já sabíamos isso. Mas enquanto isso não nos preocupou diretamente, fechámos os olhos. Eram as leis do mercado e há que obedecer à vontade dos deuses. Talvez um desses deuses tenha tido um sentido sádico de justiça e nos esteja a fazer pagar o preço de não termos cuidado das condições de vida e de trabalho destes milhares de trabalhadores “informais”. Que a pós-pandemia nos obrigue a tratar decentemente quem trabalha. Todos. De modo a não haver “informais”.

A. Avelãs