Tecnologia 5G tem riscos para a saúde?
O Jornal Público aborda hoje a problemática do 5G em várias frentes, mas vamos apenas àquela que nos apoquenta a todos: as consequências para a saúde, de acordo com informação científica disponível.
Diz o Público de hoje:
- Muitos dos receios de cancro com origem em radiações não ionizantes, como as dos telemóveis, baseiam-se num estudo de 2000 sobre tecidos vivos, que não têm em conta a capacidade da pele para as bloquear, cujos resultados, por isso, não podem ser usados como única fonte para estabelecer os riscos que essas radiações representam para a saúde humana;
- a Organização Mundial da Saúde (OMS) garante que os níveis de radiações electromagnéticas a nível mundial se encontram abaixo dos limites máximos recomendados;
- O IARC (International Agency for Research on Cancer), estabelece que o potencial carcinogénico das radiações eletromagnéticas (em geral, não o 5G em particular) se situa ao nível de extratos de Aloé Vera ou dos picles;
- Nas medições de 5G realizadas em Portugal através da ANACOM “os valores medidos estão mais de 50 vezes abaixo dos níveis de referência que são recomendados internacionalmente pela Organização Mundial de Saúde”.
Diz a DECO:
- “O 5G faz uso da radiação eletromagnética, com um efeito semelhante às redes móveis 2G, 3G e 4G para o corpo humano. O 5G em Portugal irá usar sobretudo duas faixas de frequência: 700 MHz e 3,6 GHz. A primeira é inferior às frequências utilizadas nas tecnologias móveis atuais e a segunda, embora mais elevada, não coloca os utilizadores em risco. Os alarmismos não se justificam. Até porque estudos verificaram que quanto mais elevadas são as frequências, menor é a penetração das ondas no tecido humano: a pele atua como um filtro para as ondas eletromagnéticas com frequências mais elevadas. Quanto mais elevadas as frequências, menor é a penetração das ondas, reduzindo a exposição dos órgãos internos.”
- Haverá mais antenas, a altitudes mais baixas, mas tal não implica maiores consequências na saúde: “mais antenas e menor distância não significa maior exposição às radiações eletromagnéticas: as múltiplas antenas 5G serão mais pequenas e irão operar com níveis de potência mais baixos.”
- Relativamente à relação entre a exposição às radiações eletromagnéticas das redes de telemóvel e o cancro, os dados mostram que, apesar do seu grande aumento ao longo do tempo, tal não se refletiu num aumento de casos desta doença, como se pode visualizar imediatamente no gráfico do National Cancer Institute que esta publicação apresenta.
Nesta publicação da DECO também se distingue os riscos da exposição às antenas de telemóvel da exposição direta ao uso de telemóvel encostado ao ouvido, atribuindo-se a esta última um conjunto de riscos associados ao aquecimento dos tecidos circundantes, que devem ser evitados mediante uma série de preceitos que podem ser consultados no artigo.
Mas há alertas à navegação de quem detém conhecimento e legitimidade científica para o fazer, em nome do princípio da precaução e da pura e simples racionalidade, conforme se exemplifica seguidamente com alguns exemplos de afirmações retirados duma publicação de 3 de janeiro de 2019 da página Investigate Europe:
- professor Lennart Hardell, oncologista do Hospital da Universidade de Örebro, na Suécia, conhecido pela pesquisa em cancro gerado pelo ambiente e por estudos que afirmam uma conexão causal entre o uso de telemóveis e tumores cerebrais: “Temos ciência que mostra que existem riscos, mas é claro que precisamos de mais pesquisas. O problema tem a ver com política e economia. Esta é uma indústria de milhares de milhões de euros que pode fazer o que quiser, já que (…) a indústria se infiltrou nas organizações que definem os padrões de segurança para radiação ”.
- professor Dariusz Leszczynski, biólogo molecular doutorado pela Universidade Jagiellonian, em Cracóvia, defende a desaceleração do lançamento do 5G até que haja mais certeza sobre os efeitos na saúde. “Não acredito que todo o utilizador de telemóvel esteja condenado e venha a desenvolver cancro. Mas alguns de nós podem. O problema é que não sabemos quem. Não temos ciência para diagnosticar qual é a combinação de genes e fatores ambientais, de forma que tornará uma pessoa mais propensa a responder a esta radiação de uma forma que levaria, por exemplo, ao cancro no cérebro ”.
- Professor Hardell, um dos 30 cientistas responsáveis pela elevação de risco da radiação electromagnética como potencialmente carcinogénica por parte da OMS, contraria a informação contida no artigo da DECO, apontando para um aumento de cancros no cérebro, a par de uma duplicação de cancros na tiróide cuja causa ainda não está bem estabelecida, mas em que aumento da exposição a radiação eletromagnética pode ter um papel;
- Quanto à questão da pele ser uma barreira eficaz contra os efeitos nefastos das radiações não ionizantes utilizadas pelos telemóveis, o Prof. Leszczynski alerta para o facto de estas podem estar a mexer de formas imprevisíveis com todo o sistema imunitário devido à pele estar repleta de células deste sistema, e de elas comunicarem com as células do sistema imunitário de todo o corpo;
- Eric Van Rongen, presidente da Comissão Internacional de Proteção contra Radiações Não Ionizantes (ICNIRP), refere relativamente à ausência de riscos destas radiações que “Não, não estamos convencidos disso. Sabemos que existem efeitos não térmicos. Mas não estamos convencidos de que eles tenham sido considerados efeitos adversos à saúde. Nem toda a mudança num sistema biológico é considerada um efeito adverso à saúde. Muitos efeitos biológicos podem ser induzidos pela exposição ao campo eletromagnético, mas eles não contam necessariamente como efeitos adversos à saúde.”
- professor David Carpenter, diretor do Instituto de Saúde e Meio Ambiente da Universidade de Albany, nos EUA, diz que o 5G não deve ser implementado até que haja estudos suficientes sobre seus riscos à saúde. “Não houve estudo adequado sobre os efeitos adversos dos campos eletromagnéticos em geral e quase não houve estudo das frequências mais altas específicas a serem usadas em 5G [...] Já temos evidências claras de elevações no cérebro e outros cancros resultantes de exposição excessiva a telemóveis, WiFi e outras fontes de campos eletromagnéticos. Pode ser que o 5G não penetre além da pele e dos olhos e, portanto, é menos perigoso que os atuais 3 e 4G. Mas ainda existem duas preocupações principais. Os planos atuais teriam minitelemóveis transmitindo 3,4 e 5G simultaneamente, aumentando muito a exposição a frequências que sabemos ser perigosas. Mas os efeitos do 5G na pele e nos olhos, mesmo que não penetre mais, devem ser determinados antes de ser amplamente implementado. Além disso, há evidências claras de redução da fertilidade entre homens e mulheres, e um aumento da incidência da síndrome de eletro-hipersensibilidade, cujos indivíduos afetados apresentam fadiga, dores de cabeça e distúrbios cognitivos quando na presença dos campos.”
João Correia