StayAway Covid: será que António Costa perdeu a noção?
Este é o título de um artigo de opinião de Susana Peralta, no Público de hoje.
Sugiro a leitura, deixando aqui, como aperitivo, uma parte do texto.
“Esta semana, o Governo entrou oficialmente em derrapagem com a ideia de nos obrigar a andar com uma aplicação de rastreamento de contactos no telefone. Esta medida é inútil, quase de certeza. E é perigosa, de certeza.
(…) Por um lado, estas aplicações só são efetivas com a adesão da quase totalidade da população. Por outro lado, não dispensam a contratação de muitas equipas de rastreadores de contactos, ou seja, profissionais que contactam as pessoas assinaladas pela aplicação como potenciais contágios. Para além da eficácia duvidosa, a aplicação levanta problemas de equidade. Nem toda a gente tem smartphones, nem todos os smartphones têm espaço, baterias que duram todo o dia, ou sistemas operativos compatíveis com este tipo de aplicações. As populações mais vulneráveis, como os idosos, os sem-abrigo, ou os mais pobres, são os que mais provavelmente ficam de fora.
(…) Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e do Conselho Nacional de Saúde, disse ontem ao PÚBLICO que a ideia da obrigatoriedade da aplicação é autoritária e estúpida. Como alternativa, “pode-se aumentar o número de comboios, de autocarros, negociar horários de trabalho diferenciados, deixar ficar em casa quem pode ficar em casa.” No capítulo de coisas que o Governo pode fazer, tenho outras ideias. Das várias medidas que foram sendo anunciadas para os lares, que são os locais onde morre mais gente, em que ponto da implementação estamos? E com que resultados? Quantos técnicos de rastreamento de contactos foram contratados? E mais: já que estamos tão digitais, podíamos ter um portal com dados regionais ou municipais da situação pandémica para nos ajudar a tomar decisões informadas? Como está a capacidade dos cuidados intensivos em cada região do país? Para além do número de casos, que perfil etário têm os infetados, quantos casos graves, quantos hospitalizados?
Tudo isto custa dinheiro e dá trabalho. Já forçar a utilização de uma aplicação é mostrar obra, mas à nossa custa. O mesmo acontece com a decisão de impor máscara todo o dia às crianças nas escolas, outra medida de eficácia duvidosa que não foi adotada em muitos países europeus. A alternativa, que custava dinheiro e dava trabalho, era ter contratado mais professoras e utilizado espaços públicos desocupados para dar espaço à escola e permitir que a comunidade educativa vivesse com mais qualidade.
(…) António Costa disse ontem ao PÚBLICO que sentiu que “era preciso haver um abanão”. Acontece que em democracia são os eleitores que dão abanões aos políticos, e não o contrário." (…)
A ler.
M. Micaelo