Artigo:SPGL homenageia Manuel da Fonseca

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Teve lugar, na passada 2ª feira, dia 23 de janeiro, a inauguração da Exposição de Desenho em homenagem a Manuel da Fonseca, de cujo nascimento se comemorou, em 2011, o centésimo aniversário.

Participaram nesta iniciativa, organizada pelo SPGL em colaboração com o Projecto Cultural +5, dezenas de colegas, que assim prestaram a sua homenagem ao Homem e ao Escritor que foi Manuel da Fonseca.

José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, e Paulo Sucena, entre outros, leram textos do autor.

Esta exposição consta de quarenta trabalhos produzidos por vinte artistas plásticos (Ana Galvão, Carlos Mendes, Carlos Teixeira, Dominguez, Eduardo Santos Neves, Fernando Leal, J. Narciso, Joaquim Lourenço, Jorge Bandeira, Laranjeira Santos, Lúcio, Luís Ferreira, Luís Filipe Gomes, Luís Guilherme Teves, Manuel Passinhas, Margarida Lourenço, Paulo Barreto, Ribeiro Farinha, Rui A. Pereira e Vitoralves) que, deste modo, pretenderam, também eles, homenagear o escritor. O mote para a sua criação foi o poema de Manuel da Fonseca “Os olhos do poeta”.

Estes trabalhos vão permanecer no Espaço António Borges Coelho até ao próximo dia 15 de fevereiro.


Manuel da Fonseca

Os olhos do poeta

O poeta tem olhos de água para reflectirem todas as cores do mundo,

e as formas e as proporções exactas, mesmo das coisas que os sábios desconhecem.

Em seu olhar estão as distâncias sem mistério que há entre as estrelas,

e estão as estrelas luzindo na penumbra dos bairros da miséria,

com as silhuetas escuras dos meninos vadios esguedelhados ao vento.

Em seu olhar estão as neves eternas dos Himalaias vencidos

e as rugas maceradas das mães que perderam os filhos na luta entre as pátrias

e o movimento ululante das cidades marítimas onde se falam todas as línguas da Terra

e o gesto desolado dos homens que voltam ao lar com as mãos vazias e calejadas

e a luz do deserto incandescente e trémula, e os gelos dos pólos, brancos, brancos,

e a sombra das pálpebras sobre o rosto das noivas que não noivaram

e os tesouros dos oceanos desvendados maravilhando como contos-de-fadas à hora da infância

e os trapos negros das mulheres dos pescadores esvoaçando como bandeiras aflitas

e correndo pela costa de mãos jogadas pró mar amaldiçoando a tempestade:

-- todas as cores, todas as formas do mundo se agitam e gritam nos olhos do poeta.

Do seu olhar, que é um farol erguido do alto de um promontório,

sai uma estrela voando nas trevas

tocando de esperança o coração dos homens de todas as latitudes.

E os dias claros, inundados de vida, perdem o brilho nos olhos do poeta

que escreve poemas de revolta com tinta de sol na noite de angústia que pesa no mundo.