“Sindicalização cai de 63% para 15,3% em quatro décadas”
Este o título de uma notícia do Expresso publicada no dia 17/03 sobre a evolução da adesão dos portugueses ao movimento sindical.
Ficamos a saber que Portugal se encontra na vigésima posição na OCDE no ranking da sindicalização, um pouco atrás da respetiva média – 16,2 %.
Resumem-se algumas causas: o previsível medo das reações dos empregadores, especialmente nos trabalhadores mais precários; as portarias de extensão, que acabam por estender a todos os trabalhadores de um setor os ganhos da luta sem que tenham de pertencer a qualquer sindicato; o fim de grandes grupos empresariais e transição dos trabalhadores para o setor dos serviços, onde o nível de sindicalização é menor; a proximidade dos sindicatos ou centrais sindicais a certos partidos políticos, o que é visto também de forma negativa por muitos trabalhadores.
Os sindicatos são organizações democráticas, representativas, sendo a sua ação o resultado das decisões tomadas pelo conjunto dos seus filiados. Contudo, e apesar da simplicidade e claridade destes princípios, somos surpreendidos no terreno com opiniões e atitudes de enorme desconfiança e de desfiliação dos trabalhadores relativamente aos sindicatos, como se estes fossem apenas mais um conjunto de organizações a juntar àquelas que os andam a enganar.
Este é mais um sinal da profunda crise em que se encontram as democracias e da sua vulnerabilidade aos movimentos anti-democráticos e populistas que, muito ao contrário do discurso dos sindicatos, prometem soluções fáceis, rápidas e baratas, como o corte de impostos cego e a eito, e não uma constante luta e negociação entre as partes envolvidas, vertida em acordos e textos que é preciso ler e analisar em reuniões chatas e prolongadas que nos “roubam” o tempo já escasso.
Há que assumir os desafios comunicacionais que se nos deparam neste mundo hipermediatizado, dominado por poderosos conglomerados empresariais, cuja agenda política, a da direita economicamente liberal, em nada coincide com a defesa dos direitos dos trabalhadores prometidos na Constituição da República Portuguesa.
João Correia