Artigo:Sem os professores, e até contra eles, onde fica a “sociedade do conhecimento”?

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Sem os professores, e até contra eles, onde fica a “sociedade do conhecimento”?

No espaço temporal de um fim de semana, o Público dá “sinais” contraditórios sobre a disposição do governo quanto à luta dos professores – uma luta por um objetivo cuja justiça ninguém, mesmo dentro do governo, ousa contestar: a contagem do tempo de serviço realmente prestado. Na capa de sábado escrevia-se que “Costa admite dar já mais do que dois anos e nove meses, que, recorde-se, é a proposta apresentada pelo governo aos sindicatos. Na capa de hoje, o mesmo diário dá a entender que Centeno está inflexível na recusa de ceder o que quer que seja numa luta cuja justiça não põe em causa, embora tal posição de eventual “fechamento” apareça atenuada ao longo da entrevista.

Os professores, na sua esmagadora maioria, não querem pôr em causa nenhum orçamento de Estado: nem o OE de 2019 nem o dos anos seguintes. Por isso, a Plataforma dos Sindicatos (ao contrário de STOP e ICL, escassas minorias) admite fasear por largos anos, o direito à contagem do tempo de serviço. Em cima da mesa está o horizonte de 2023 para que tal seja alcançado. Mas a negociação continua…

Se o governo não aceitar a posição dos professores, a carreira dos docentes, para a maioria deles, terá a duração de, pelo menos, 44 anos para atingir o topo. Muito mais longa do que a carreira docente da generalidade dos países com que costumamos comparar-nos.

A profissão de professor tornar-se-á cada vez menos atraente. Dados recentes alertam para que são os alunos com piores classificações no fim do secundário que escolhem os cursos para a docência (e mesmo assim, são cada vez menos). Este ano letivo foi já grande o número de alunos que não teve professor em algumas disciplinas durante boa parte do ano ou mesmo durante o ano inteiro.

Continuar a desconsiderar os professores, nomeadamente desconsiderando a sua carreira, travará os enormes progressos que a Educação em Portugal tem registado, como todos reconhecem. Sem professores motivados e socialmente reconhecidos Portugal perderá o caminho para a “sociedade do conhecimento” de que tanto falam os governantes… e hipoteca o seu desenvolvimento.

António Avelãs