Artigo:Saúde Mental de Alunos/as e Docentes nas Escolas Portuguesas

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Saúde Mental de Alunos/as e Docentes nas Escolas Portuguesas

A Notícia do Dia de hoje não podia ser outra e é óbvia: Um terço dos alunos acusa sofrimento psicológico. Este título, em destaque na primeira página do “Público” de 24 de Maio, é depois vertido no editorial de Andreia Sanches e nos artigos da autoria de Daniela Carmo na secção Sociedade.

Estes dados, que fazem parte de um estudo promovido pelo Ministério da Educação Saúde Psicológica e Bem Estar, foram recolhidos entre 22 de Fevereiro e 8 de Março, a partir de entrevistas a alunos entre os 5 e os 18 anos. Segundo a notícia “Quanto mais velhos, mais tristes, irritados ou nervosos”, a ansiedade é o facto mais preocupante no estado emocional destes jovens, sendo que o peso dos testes e o receio do insucesso estão na base disso em 43% destas crianças. A consciência por parte de muitos destes jovens de que sentem que trabalham para os testes, em vez de trabalharem para aprender é muito significativa e deveria ser um sinal de alerta para a tutela e para a sociedade que hiper valoriza a importância dos testes e dos exames na vida escolar dos alunos portugueses.

A base deste primeiro estudo sobre saúde mental e bem-estar do pessoal discente e docente decorreu da necessidade, tardia em meu entender, de perceber os efeitos da pandemia de covid-19 e do isolamento a que foram obrigados. É interessante olhar para os números em items tão relevantes como são 1) a sua vida na escola, 2) a sua vida com os amigos, 3) a vida consigo mesmos e 4) a vida em família. A autora e coordenadora científica do estudo, a psicóloga Margarida Gaspar de Matos encontrou “o «mesmo padrão» em alunos e professores quando questionados sobre o impacto da covid-19: “Metade dos professores acusa mais (impacto), nomeadamente as mulheres “ e “um terço dos jovens também o acusa.” O avançar do tempo reforça estes resultados negativos, ou seja, quanto mais avançam na escolaridade (os alunos), quanto mais tempo de serviço têm (os professores). É também relevante a análise da questão do género, citando o estudo: “O género feminino mostra carecer de atenção redobrada à medida que se avança na escolaridade.” “O género feminino obteve valores mais elevados (menos favoráveis) para as dimensões do stress, da depressão e total , enquanto que o género masculino obteve valores mais elevados (mais favoráveis) nas dimensões do desenvolvimento positivo (competência, confiança e conexão)”

No segundo artigo de Daniela Carmo que se foca na questão dos professores e no editorial do jornal “Público” deste dia, metade dos professores inquiridos neste estudo referem sinais de sofrimento psicológico e um em cada cinco diz que quase todas as semanas, nalguns casos mais do que isso, sente, “uma tristeza tão grande que parece que não aguenta.” Não é nada de novo que os sindicatos da FENPROF não tenham já referido e para o qual não tenham já apontado medidas. Também o artigo do jornal aponta para “medidas a iniciar já”. O ministro da educação compromete-se a voltar a avaliar resultados com outro estudo a promover dentro de dois anos, afirmando que “estes estudos não podem ser pontuais” e assume com este “um compromisso com a saúde mental, uma área em que não se investiu tanto como se devia.”

Vamos passar das palavras aos actos? Não é tudo isto já demasiado tardio? É possível remediar com uns projectos quando não se mexe no essencial, por questões que não são de detalhe, mas de fundo e de políticas estruturais?

Em minha opinião, os estudos são fundamentais e eles servem, para além do diagnóstico, para o impulso para políticas sérias transformadoras que têm andado arredadas do Ministério da Educação. A saúde mental é uma coisa muito séria.

Almerinda Bento