Salvini e os migrantes
Nestes tempos conturbados que se vivem em Itália, surgem, ainda assim, notícias que nos devolvem alguma esperança na clarividência de actuação da humanidade.
A justiça italiana aperta o cerco a Matteo Salvini, ponderando levá-lo a tribunal, por obstrução ao dever de auxílio a pessoas em perigo.
O caso, recorde-se, tem a ver com a não autorização do desembarque de migrantes em portos italianos, por barcos da Guarda Costeira, em Julho de 2018 e do navio humanitário Open Arms, em Agosto do mesmo ano.
O Senado italiano retirou-lhe a imunidade política e autorizou o seu julgamento pelo bloqueio de migrantes, podendo vir a ser condenado por "abuso de poder e sequestro de pessoas".
A crise migratória no Mediterrâneo permanece muito longe de ficar resolvida, como o demonstra a brutal intervenção das milícias armadas da Guarda Costeira Líbia, mas a actuação dos governantes europeus poderá ser repensada no futuro.
A este propósito, Miguel Duarte, o jovem voluntário português acusado de auxílio ilegal à imigração pela justiça italiana, lembra, em entrevista na Antena1, que, até este momento, nada mudou na desgraçada vida dos migrantes de um lado e do outro do Mediterrâneo e que as leis de Salvini continuam a vigorar em Itália.
As políticas Europeias de externalização das suas fronteiras, retendo os potenciais migrantes em campos de "manutenção forçada" na Líbia e na Turquia, não só não resolvem o problema como aumentam a crise humanitária à volta do Mediterrâneo.
A Europa, em declínio demográfico acentuado, tem que perceber que uma das soluções para esta crise passa pelo acolhimento humanitário e regrado dos migrantes nos diferentes países que a compõem.
Ricardo Furtado