Requiem por um Brasil Livre?
"A decisão sobre o sucessor de Michel Temer como 38.º Presidente da República Federativa do Brasil fica assim adiada para 28 de Outubro, com a eleição a ser disputada entre Jair Bolsonaro, o candidato da extrema-direita brasileira, e Fernando Haddad, que substituiu Lula da Silva na liderança da candidatura do PT (esquerda). " Público, 8/10/18
Até lá, o que esperar da capacidade do povo brasileiro reverter um inconcebível regresso a uma cultura política assente no securitarismo mais primário, no caciquismo, na consolidação e agravamento das desigualdades sociais, na ameaça de ditadura pura e simples, da entrega do pouco que resta da Amazónia, da sua biodiversidade e povos indígenas à vontade de criminosos mascarados de empresas e autoridades diversas?
Brasil, terra do sambar e da alegria, a vestir-se do mais negro que a natureza humana tem, como se não bastasse um passado assim não tão longínquo de opressão ditatorial, onde pára a tua memória coletiva por todas as vítimas daqueles e daquilo que Bolsonaro tanto diz admirar?
O PT não é Santo não, mas o PT deu pão a quem mais precisava, como nunca anteriormente. A ditadura que Bolsonaro diz tanto admirar só deu pobreza, injustiça, violência, censura, arbitrariedade. Dá para entender isto?
Se o que se está a passar é uma reação do povo à corrupção do PT, então trata-se de uma coisa análoga aos problemas autoimunitários, que, como se sabe, paralisam e destroem o próprio organismo numa espécie de alergia a si próprio.
Esta espécie arremedo purista e para-religioso associado à eleição de um aspirante a ditador, tem muitos antecedentes da história, e caracteriza-se por uma crença do eleitorado na capacidade de um homem ou partido cortar o mal pela raiz, mesmo que esta seja a fonte da própria vida e liberdade.
João Correia