Artigo:RENEGOCIAR JÁ!

Pastas / Informação / Todas as Notícias

RENEGOCIAR o” memorando” assinado com a “troika” começa a ser uma posição defendida por quase toda a gente – economistas de direita e de esquerda, políticos de partidos da oposição mas também dos partidos do poder, sindicatos e muitíssimos cidadãos. Imune a esta ideia continua porém o conjunto de fundamentalistas do ultraneoliberalismo que tomou o poder – democraticamente eleito, é verdade. Uma vitória facilitada pela cegueira política de quem alegremente se associou ao PSD e CDS para derrubar o governo de José Sócrates sem cuidar de outras alternativas.

Intrigante e curiosa é a posição do FMI – parte integrante da “troika”. Reconhece que errou na receita e que a política de austeridade a todo o custo não é solução para nenhum país em dificuldades. Mas vai mais longe: antevê que com a atual política do governo português a recessão económica em 2013 poderá triplicar ou quintuplicar os números previstos pelo governo português – apenas de 1%.

No recente Congresso Democrático das Alternativas, realizado em 5 de outubro, houve quem questionasse o termo que acabou por finar no texto final: denunciar o memorando. É obviamente uma questão menor: só se pode renegociar o que não se aceita, isto é, o que se denuncia –se falarmos de tratados.

Operativamente, porém, o que significa “renegociar” o memorando? Há várias “intenções”: uns pretendem apenas “mais tempo” para se atingir um valor de dívida aceitável, outros acrescentam a necessidade de juros mais baixos, outros ainda apostam no perdão parcial ou total da dívida. Defendem uns que a renegociação deve ser encaminhada para uma saída “controlada e autorizada” da zona euro, solução contrária a outros que defendem a permanência no euro a todo o custo.

O que para os portugueses é já por demais evidente é que não faz qualquer sentido manter teimosamente o caminho traçado por Passos Coelho: a submissão cega e canina a um conjunto de compromissos que, pretendendo ser remédio para o problema, não faz mais do que agravá-lo assustadoramente. É por isso que é inevitável uma mudança de orientação política que só pode ser corporizada por um novo governo: é essa inequivocamente a razão de ser da greve geral de 14 de novembro. Só que para se conseguir uma nova política e um novo governo é necessário criar alternativas credíveis e viáveis – e esse é o busílis da questão. Ao menos que a exigência de uma renegociação rápida do memorando seja o denominador comum de um projeto de alternativa a este grupo de talibãs do neoliberalismo que, movidos por uma fé irracional, indiferente à realidade, nos vai empurrando para um inferno cada vez mais profundo.

António Avelãs