RACISMO: História e contemporaneidade
Cristina Roldão, professora na ESE-IPL e investigadora no CIES-IUL, publica no Público de hoje (13 de abril, página 6) um texto que começa por merecer o nosso aplauso pela honestidade intelectual que o atravessa. Distingue dois tipos de escravatura: o que foi motivado por questões de tribo, de vínculos, de guerras - e que é anterior à colonização de África pelos europeus - e o que se fundamenta em interesses económicos - mão de obra gratuita -, sendo este último a razão de ser do tráfico transatlântico de escravos, negócio em que Portugal se tornou figura de proa. E outras considerações pertinentes analisadas no texto justificam a sua leitura cuidada.
A questão do racismo, porém ,e sem pôr em causa a necessidade da investigação histórica, manifesta-se atualmente também pelo recurso à exploração do trabalho dos imigrantes - os casos de real escravatura dos trabalhadores agrícolas denunciados em Odemira estão longe serem únicos-, os discursos e propostas da extrema direita contra os imigrantes continuam a defender o racismo e, num plano diferente mas não menos grave, a passividade com que deixamos morrer no Mediterrâneo emigrantes de África e da Ásia não deixa também de ser uma forma de considerar que a morte destes migrantes é uma questão menor. De resto, quantos milhares de escravos morreram nas viagens transatlânticas?
Na luta contra a persistência da mentalidade racista em Portugal, Mamadu Ba tem um papel destacado. A extrema direita conseguiu levá-lo a julgamento por alegação difamação de um sujeito conhecido por assassinar um cidadão alegadamente por motivações racistas. Mamadu Ba merece toda a nossa solidariedade. Os trabalhadores migrantes exigem todo o nosso apoio na lutar pela dignidade com que merecem ser tratados e pelo respeito devido a quem trabalha. A luta contra a escravatura continua.
António Avelãs