QUO VADIS, AMÉRICA?
Folheando o Público de hoje, 3 de janeiro de 2022, poderia ter escolhido para esta “notícia do dia” o excelente artigo de Ricardo Cabral sobre os efeitos, muito pouco favoráveis, da adesão de Portugal à UE ao euro. Citarei apenas uma “conclusão” deste texto: “A evolução dos principais indicadores macroeconómicos sugere que a adesão de Portugal à UE e ao euro não resultou num desempenho económico e social satisfatório”. Poderia ter escolhido o artigo que denuncia “Mais uma activista assassinada na Colômbia”. Assassinatos “em série” de ativistas sindicais e dirigentes sindicais a que a nossa comunicação social dá pouquíssimo relevo, não fora a Guatemala um apoio essencial dos EUA na América Latina.
Optei, porém, pelo artigo de Alexandre Martins, nas páginas 20 e 21: “Democracia nos EUA/2022, um ano decisivo!". Fi-lo motivado pelo “destaque” do texto: “Só 7% dos jovens dos 18 aos 29 anos no país consideram que o estado da democracia dos EUA é “saudável”. A maioria, 52% diz que a democracia está em “apuros”, ou é mesmo uma “democracia falhada”.
Lendo o texto, fiquei ainda mais perplexo. Segundo uma sondagem “a percentagem (dos que assim pensam) é muito mais elevada entre os jovens republicanos do que entre democratas e independentes". E o autor conclui: “o que reforça a ideia de que as queixas infundadas de fraude eleitoral lançadas por Trump passaram a fazer parte das crenças mais profundas no Partido Republicano”.
Não deixa de ser no mínimo curioso que nos EUA um candidato derrotado denuncie, sem quaisquer provas, (inexistentes) fraudes eleitorais. Como o EUA fazem quase sempre que, em outros países, os resultados eleitorais lhes não agradam. Os casos mais recentes: nas últimas eleições na Venezuela, e no Perú, e, mais anteriormente, na Bolívia, no Equador, nas Honduras… Para já não falar do Chile de Salvador Allende.
Só que, a acreditar nestas sondagens, a maioria dos jovens americanos acredita mesma nas patranhas de Trump. Há quem admita que os EUA estão à beira de uma guerra civil - escreve-se neste texto.
António Avelãs