Questionar o mundo que nos rodeia
Marta Ornelas
| Professora EA António Arroio |
A arte de hoje permite múltiplas interpretações e pretende lançar perguntas e reflexões, o que significa que o seu propósito é a criação de pensamento
Questionar o mundo que nos rodeia é uma tarefa essencial e que está ao alcance da escola promover. Fazê-lo a partir das artes significa fazer uso do enorme potencial disponível, quer através do legado de inúmeros artistas, quer através da exploração plástica em sala de aula de forma refletida.
O pensamento crítico é muitas vezes referido nos documentos educativos orientadores, mas nem sempre abordado. Em muitas escolas ainda se vivenciam experiências de educação artística na área das artes visuais que valorizam o resultado, insistindo no desenvolvimento da motricidade fina, na representação da realidade idêntica à captação fotográfica, na utilização de materiais considerados “de arte”. Ora, a produção artística contemporânea vai muito além desta tradição. Os artistas produzem hoje obras de arte que não refletem necessariamente habilidades manuais, não representam a realidade de forma igual à que vemos e utilizam os mais variados materiais, como objetos do quotidiano ou elementos da natureza. Diversas obras ainda possibilitam que o público seja seu coautor.
A arte de hoje não serve para ser bonita, há muito que os artistas procuram afastar-se da estética e da técnica, explorando mais o processo do que o resultado, em que o produto final confronta, desloca e desconforta o público. A arte de hoje permite múltiplas interpretações e pretende lançar perguntas e reflexões, o que significa que o seu propósito é a criação de pensamento. Como tal, é importante que a escola acompanhe esta transformação. Há muitos caminhos alternativos à educação instrumental e o pensamento crítico deve fazer parte da educação artística do presente, para que a arte possa ser uma ferramenta pedagógica de questionamento do mundo, ativando a curiosidade, a motivação, a empatia, a criatividade. Só assim esta área já tão subvalorizada poderá contribuir para a formação de cidadãos ativos, informados e conscientes.
Texto original publicado no Escola/Informação Digital n.º 43 | julho/agosto 2024