Artigo:Quem tem aulas mais cedo tem piores notas: há que começar mais tarde?

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Quem tem aulas mais cedo tem piores notas: há que começar mais tarde?

No Público de domingo, 26 de março, num apontamento jornalístico de Tiago Carvalho refere-se “Os horários madrugadores são prejudiciais sobretudo para os adolescentes e jovens adultos, ou seja, no ensino secundário e universidades. Há cientistas que pedem um atraso – com horários mais tardios.”

Justificando esta perspetiva, o jornalista refere igualmente: “ É o que mostra um estudo publicado na revista Nature Communications, com quase 40 mil alunos universitários em Singapura: quem tem aulas mais cedo tem piores notas. E era o que já dizia uma experiência, publicada na revista Science Advances, com quatro turmas do 10.º ano, realizada em Seattle (Estados Unidos) em 2016 e 2017, em que se concluiu que o atraso de uma hora no início das aulas terá contribuído para uma melhoria das notas (de 4,5%). Ou um estudo publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience que acompanhou adolescentes entre os 13 e os 16 anos, ao longo de quatro anos, em que os alunos que começavam as aulas mais tarde (às 10h) também mostravam melhor desempenho académico do que quem começava às 8h30.


Ser mais noctívago não ajuda, sendo o ritmo circadiano, ou mais comummente conhecido por relógio biológico, ou seja , o cronótipo , é mais tardio nos adolescentes, devido aos seus hábitos , mas também por motivos biológicos. O cronótipo vai sendo cada vez mais tardio durante a adolescência”, explica Maria Juliana Leone, neurocientista da Universidade Nacional de Quilmes e da Universidade Torcuato Di Tella, na Argentina.
A investigadora argentina refere que este aspecto biológico acaba por ser determinante para estes resultados mais negativos dos adolescentes nas aulas mais matutinas.

“Há ainda outros factores que podem moldar o cronótipo, como a exposição à luz, os hábitos de sono ou até culturais. Por isso, o cronótipo dos adolescentes de alguns países, como a Argentina, é mais tardio do que de outros, como os Estados Unidos ou Alemanha”. A cientista argentina nota que não há horários óptimos e que são necessários estudos locais para avaliar cada país.

Apesar de não haver dados sobre esta matéria em Portugal, um estudo do Conselho Nacional de Educação, publicado em 2017, analisou mais de 2000 horários escolares de turmas do 5.º e 9.º anos de escolaridade e concluiu que a grande maioria das turmas tem aulas sobretudo no período da manhã: “75% das turmas do 5.º ano e 79% das do 9.º apresentam horários predominantemente de manhã. O recurso a horários distribuídos na parte da tarde verifica-se em unidades orgânicas sediadas em regiões de maior densidade e pressão demográfica (Norte litoral e Área Metropolitana de Lisboa).”

Com ou sem dúvidas sobre os horários ideais para adolescentes e jovens adultos, há um consenso nos estudos realizados até ao momento, que mostram um melhor desempenho académico quando as aulas começam mais tarde – e os estudantes dormem mais horas.

Mas então, quais os principais contras para mudar de horários?

A maior barreira é a inércia. Muitos decisores nas universidades podem pensar que os estudantes apenas precisam de ser mais disciplinados e ir para a cama mais cedo”, aponta Joshua Gooley.

Mas há outras barreiras, como as rotinas familiares.

Horários mais tardios são muitas vezes impopulares junto dos professores, que preferem manter um horário mais compacto e que termine cedo”, acrescenta Joshua Gooley, que lembra ainda potenciais problemas com os transportes para as próprias escolas ou universidades.

Há uma boa notícia para os professores: horários mais tardios também parecem trazer benefícios para quem educa. Um estudo publicado em 2022, na revista Journal of School Health, conclui que os professores do ensino básico e secundário se sentiam mais relaxados e com menos stress após três anos em que as aulas começaram cerca de uma hora mais tarde.

Concluindo: “Nalguns locais começar as aulas mais tarde limitaria a possibilidade de ter vários turnos de aulas ou de usar o edifício da escola para outras actividades ao final do dia”, diz Maria Juliana Leone. “Ainda assim, as autoridades devem considerar seriamente atrasar o início das aulas, porque a educação, o bem-estar e a saúde dos adolescentes estão a ser afectados”, sintetiza a argentina.”
Aqui fica um pequeno apontamento sobre este pequeno artigo que espero vos desperte a curiosidade.

Ana Cristina Gouveia