Artigo:“Quem são e como se organizam as ativistas que ocupam escolas”

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“Quem são e como se organizam as ativistas que ocupam escolas”

No Expresso de sábado, 18 de novembro, a jornalista Carla Tomás, na sua crónica afirma
Cara fechada seguida de uma corrida até se sentarem com uma mão colada ao chão, na entrada do Ministério da Economia. Vincam que dali não saem pelo seu pé. Numa fração de segundos, as coisas acontecem. Mas detrás destas ações, há uma preparação. Calmas, escrevem na mão duas palavras — “está colada” — para que a polícia tenha cuidado quando as puxar. E na perna rabiscam um número de telefone, conscientes de que podem ser detidas. Sabem o que dizer, como agir e estar numa ação de desobediência civil, fruto de formação coletiva em movimentos sociais.”

Estando na ordem do dia a discussão sobre o tema das alterações climáticas, e da movimentação e preocupação de muitos dos jovens não é de estranhar a minha escolha de notícia. O movimento por justiça climática aposta na disrupção e numa escalada de táticas “à medida que a crise climática escala".

Entre 7 e 14 de novembro, mais de uma centena de jovens ocuparam duas escolas secundárias e quatro faculdades de Lisboa, tendo-se barricado em duas delas: na António Arroio e no Camões, um dia e uma noite. Esta terça-feira, aconteceu a apoteose: com a detenção de cinco ativistas (duas menores) no Ministério da Economia.

Segundo Carla Tomás:  “Aconteceu depois de se terem reunido com o ministro António Costa Silva para lhe apresentarem formalmente o pedido de demissão que queriam que assinasse. Veem o ministro como o “representante” da indústria de combustíveis fósseis dentro do Governo e as suas palavras suaves e garantias de que Portugal aposta em energias renováveis, proferidas durante a breve reunião, não as demoveram. Acusam-no de abrir a porta a novas perfurações de gás em Portugal, quando para elas “gás é andar para trás”. Sublinham que “para a nossa espécie não ficar extinta, é preciso neutralidade carbónica até 2030”. O Governo promete-a até 2045. O ministro pediu-lhes um programa. Lembraram-no que têm um na página do movimento e que para a reunião nem um papel as deixaram levar.”

Estas manifestações recentes marcam aquilo a que estes jovens chamam “movimento disruptivo” ou “nova etapa no movimento estudantil e no movimento por justiça climática”. Dizem que o que fazem é “uma escalada de táticas à medida que a crise climática escala também”. Da conferência do clima que decorre no Egito não esperam grande coisa.”

Estes jovens definem-se como apartidários, mas não apolíticos, ou não fossem “anticapitalistas”. O “fim ao capitalismo fóssil” é uma das palavras de ordem, como destaca uma das jovens que falou com Clara Tomás, Alice Gato. Tal como ela, muitos dos jovens ativistas que participaram nas ocupações e manifestações recentes iniciaram as suas convicções de luta na Greve Climática Estudantil de 2019. Contam com o apoio dos pais e dos professores, agora como no passado.

Têm uma estrutura horizontal e comunicam por redes sociais e aplicações móveis para preparar e difundir o que fazem

Confiam estes jovens que plantaram “uma semente com estas ocupações” e conquistaram “mais gente para a luta da sustentabilidade e contra o capitalismo”. Ver-se-á o que traz a primavera, onde esperam que mais escolas se juntem a ações semelhantes. “É o nosso futuro que está em causa”, dizem. As duas escolas secundárias de Lisboa foram as que mais alunos juntaram na ocupação pacífica, sem que os diretores chamassem a polícia.

Ana Cristina Gouveia