Artigo:Que se pretende atingir com os "Mega-Agrupamentos"?

Pastas / Informação / Todas as Notícias

O argumento mais repetido para justificar que se agrupem numa mesma unidade orgânica - o agrupamento - os alunos desde o pré-escolar ao secundário, instituições popularmente designadas por "mega agrupamentos", é a vantagem "pedagógica" que resultaria do facto de cada criança "estar" numa mesma escola - o agrupamento – durante toda a escolaridade, evitando-se assim "mudanças" de ambiente e de amigos, eventuais factores de insucesso escolar. Argumenta-se ainda que cada criança estaria assim sujeita a uma escolaridade "organizada", em que se daria a coordenação entre os diversos ciclos. Na minha opinião, são argumentos fracos. Vejamos:

1. Argumentar com a vantagem de não mudar de ambiente ou de amigos supõe que todo o agrupamento funcione num único edifício, construído com esse fim, e de modo a responder às diferentes necessidades de crianças de 3 anos e de adolescentes de 17. Ora essa não é a "norma": as escolas de um mesmo agrupamento funcionam em edifícios autónomos, por vezes próximos, por vezes separados por quilómetros. Não se vê como é que isso evite o alegado (e muito discutível) inconveniente da mudança de ambiente e de amigos... É certo que é vantajosa a coordenação entre diferentes ciclos da escolaridade. Mas isso não exige toda esta confusão dos agrupamentos, é perfeitamente realizável - certamente com mais eficácia - mediante a coordenação entre os órgãos pedagógicos e directivos de cada escola autónoma. Porquê com mais eficácia? Porque cada escola "autónoma" manteria os seus órgãos pedagógicos próprios não se diluindo, como agora acontece, num órgão pedagógico "geral" do agrupamento, onde, no fundo, cada uma das escolas se sente deficientemente representada. Como se sentirá mais"sólida" se tiver os seus órgãos próprios de direcção e não um mero "coordenador de estabelecimento" dependente do director colocado lá na sede do agrupamento.

Convém aliás perguntar que balanço foi feito do projecto das EBI (Escolas Básicas Integradas), essas sim, "agrupamentos" criados de raiz, com "pés e cabeça", com um número de alunos devidamente equilibrado.

2. Que sentido faz alargar o "agrupamento "às escolas secundárias? De facto, concluído o 9º ano, os alunos escolhem a escola onde irão frequentar o secundário não tanto em função da escola mas sim do curso ou área que pretendem.

Concluindo: do ponto de vista pedagógico, parece não haver ganhos na constituição dos "mega agrupamentos". Os objectivos que teoricamente se pretenderiam atingir, são atingíveis sem o recurso a estas "instituições". Certamente por isso, muitos dos países que avançaram com esse modelo estão agora a voltar a escolas de menor dimensão e de maior "proximidade". Parece que estamos "fadados" a nada aprender com a experiência dos outros.

A menos que a verdadeira razão para a constituição destes mega agrupamentos seja o que se poupa com a concentração dos serviços administrativos, com o menor número de directores e com o facto de os docentes de um ciclo serem obrigados a dar aulas noutro ciclo. Mas se assim é, reconheça-se isso e não se engane o pagode.