Artigo:Que Crise é esta, amigo?

Pastas / Informação / Todas as Notícias

Que Crise é esta, amigo?

É da sabedoria popular que tudo se pode assacar a umas costas largas.

Ultimamente voltamo-nos para a espadaúda crise.

Mexe, não mexe; vive, morre; dá lucro, dá prejuízo; é possível, é inevitável, enfim, é a crise.

É a Guerra, é a Energia, é a inflação, são os lucros obscenos, são as subidas das taxas de juro, são as sustentabilidades nas pensões e nos salários, enfim, é a crise.

Neste momento seria útil que começássemos a questionar a utilização excessiva da “crise” para justificar tudo e mais alguma coisa e, sobretudo, para desculpabilizar as tão necessárias e inevitáveis medidas recessivas que nos permitirão atingir essa bonança dourada que os mestres economistas todo-poderosos do mundo inteiro, em uníssono, nos apresentam como as únicas soluções para, lá está, combater a crise.

A economia de guerra, a “crise” energética, a inflação e o aumento sanitário das taxas de juro, expoentes máximos e facilmente observáveis da tão propalada crise,  têm em comum, e de forma amplamente justificada claro está, o crescimento da miséria e do empobrecimento generalizado das populações e, por outro lado, o enriquecimento exponencial de alguns que, se fossem Russos, designaríamos por oligarcas.

Ora a inflação, como se tem visto,  não é maioritariamente consequência do aumento do custo das matérias primas ou de um aumento da procura, muito menos do aumento dos salários, mas sim do aumento do lucro de alguns sectores de actividade económica. De um aumento da especulação sobre os preços.

Com a inflação e a subida onzeneira dos juros dos empréstimos que inevitavelmente tivemos que contrair, o nosso dinheiro, que resulta do nosso trabalho, que é o nosso maior contributo para a sociedade, corre directamente para as grandes fortunas mundiais.

É a crise, dizem-nos.

Só que a crise, para mal dos nossos pecados,  está comoda e proveitosamente, para alguns, instalada.  Segundo parece a inflação não só não é temporária como os preços nunca mais voltarão a descer.

E qual é o peso do aumento do salário dos trabalhadores nesse preço final dos produtos? Nenhum

Se o referencial de aumento de salários anunciado pelo Governo se mantiver nos 4.8%, a queda no poder de compra dos assalariados deste país pequenino e triste será avassaladora.

Dos assalariados mas não todos porque, ao mesmo tempo que o Governo anuncia a intenção de isentar do IRS os rendimentos até 10500€ anuais, que grande loucura, que mãos abertas, e com isto engloba 25 % de trabalhadores, soubemos que um funcionário de topo do Banco de Portugal, administrador pois claro, aufere cerca de 15 000€ mensais, um pouco menos que o Governador Centeno.

Termino com uma nota sobre a senhora Lagarde, como pomposamente lhe chamam os costumeiros comentadores encartados das rádios e televisões portuguesas, para lembrar que foi a primeira convidada para o primeiro Conselho de Estado do recente mandato do Presidente Marcelo.

Eles sabem o que fazem.

Ricardo Furtado