Qual o preço da retirada do veto turco?
Nada tenho contra a entrada da Suécia e da Finlândia na NATO. Nem a favor. Fico sim preocupado pela falta de clareza de informação sobre o acordo que terá permitido ao ditador turco Erdogan retirar o seu anunciado veto. O presidente turco tinha deixado bem claro que a retirada do veto estava condicionada ao fim do asilo político que a Suécia vinha dando a opositores do ditador turco, nomeadamente militantes do PKK e do movimento religioso de Fetullah Gulen, que Erdogan (e outros políticos dirigentes da NATO) consideram terroristas. “Terroristas” eram para Salazar e Caetano os dirigentes e militantes dos movimentos de libertação de Angola, Moçambique, Guiné… Terrorista era para Suharto, Xanana Gusmão e os militantes da Fretilin. Terrorista era para a Inglaterra o Sinn Fein. E para o apartheid sul africano, Nelson Mandela era o chefe de um grupo terrorista, o ANC. Todos eles se tornaram posteriormente respeitados chefes de governo, ministros, e de ”terroristas” os partidos e movimentos que representavam se tornaram maioritários nos seus países. Mandela foi, “apenas” Prémio Nobel da Paz! O PKK luta denodadamente pelo direito à autodeterminação do povo curdo. O movimento Fetullah Gulen é vítima da repressão de Erdogan.
Muitos portugueses tiveram na Suécia o seu refúgio, fugidos à ditadura que aterrorizou Portugal.
Se a retirado do veto turco tiver como moeda de troca, como pretende Erdogan, a extradição pela Suécia de asilados políticos turcos,(1) a União Europeia (e a NATO) escreverá uma página muita negra da sua história: vender pessoas, muito provavelmente potencialmente condenadas à morte ou a prisão perpétua, para obter um alargamento estratégico. Nenhuma ditadura faria melhor.
(1) Pode ler-se no Público de 29 de junho, página 3, em artigo assinado por Rita Siza, “Segundo revelou Stoltenberg, o acordo de princípio fechado em Madrid inclui um compromisso da Suécia e Finlândia (…) (para) a repressão às atividades do PKK e ainda a celebração de um novo pacto de extradição com a Turquia que reclama a deportação de militantes do PKK e seguidores do movimento religioso de Fethullah Gulen, o inimigo número um de Erdogan”.
António Avelãs