Artigo:Professores de Educação Especial: Educadores, Enfermeiros ou Terapeutas?

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Professores de Educação Especial: Educadores, Enfermeiros ou Terapeutas?

Ana Cristina Gouveia

Colegas,

Trago aqui a voz de quem trabalha diariamente com alunos em situação de saúde muito delicada. Somos professores de educação especial, mas muitas vezes também enfermeiros, terapeutas e cuidadores – tudo ao mesmo tempo. Esta realidade levanta uma questão: afinal, que função nos é verdadeiramente atribuída?

O nosso trabalho exige um equilíbrio constante entre a pedagogia e a atenção às condições clínicas dos alunos. Criamos ambientes de aprendizagem securizantes, acolhedores e significativos, mesmo quando lidamos com situações altamente complexas.

Enumero alguns dos principais desafios:

  1. Adaptação pedagógica contínua: Trabalhamos com alunos que têm limitações severas – físicas, cognitivas, emocionais – exigindo metodologias muito personalizadas, ritmos diferenciados, materiais específicos.
  2. Carga de trabalho avassaladora: Entre o planeamento individualizado, a elaboração de relatórios, reuniões e a gestão de crises comportamentais ou emocionais, sobra pouco tempo para o essencial: ensinar.
  3. Desgaste emocional: A convivência diária com a dor, a impotência e, por vezes, a ausência de progresso visível nos alunos, leva muitos docentes à exaustão. A ausência de apoio psicológico e institucional agrava o risco de burnout.
  4. Gestão de emergências médicas: Sem formação nem apoio adequado somos, muitas vezes, os primeiros a responder perante situações de urgência que colocam em risco a vida de um aluno.
  5. Falta crónica de recursos: Escasseiam técnicos especializados, materiais adaptados, e apoio clínico. A sobrecarga recai de novo sobre o professor.
  6. Relação com as famílias: Comunicar com empatia, apoiar, gerir expectativas e angústias… tudo isto também é nossa tarefa, e é essencial – mas exige tempo e preparação.

Apesar de tudo, estamos presentes. Criamos momentos de aprendizagem, conforto e alegria. Mas não podemos continuar a fazê-lo à custa da nossa saúde e sem reconhecimento da complexidade da nossa função. Apenas com melhores condições de trabalho e uma definição concreta do que é a função de professor de educação especial será possível garantir que estes consigam desempenhar as suas funções com qualidade e que os alunos  tenham acesso a uma educação digna, inclusiva e que respeite as suas potencialidades.

É tempo de agir:
Reivindicamos a clarificação do papel do professor de educação especial, melhores condições de trabalho, assistentes operacionais com formação especializada e a presença efetiva de profissionais da saúde nas equipas multidisciplinares – enfermeiros, médicos, psicólogos clínicos. Só assim garantiremos uma escola verdadeiramente inclusiva, onde os alunos com autismo, multideficiência ou doenças graves tenham acesso a uma educação digna e humanizada.

Obrigada.

Viva o XV Congresso dos Professores!
Vivam os professores e professoras

Viva a FENPROF