PJ investiga várias queixas de tráfico de pessoas e escravatura em Odemira
Durante todo este fim de semana, as televisões deram voz ao bastonário da Ordem dos Advogados (e também dirigente de uma Associação de Proprietários) defendendo este que a requisição civil, que, por razões imperiosas de saúde pública, fora decretada sobre a insolvente Zmar, violaria os direitos humanos de uns tantos proprietários. Ficar-lhe-ia bem esta preocupação sobre a defesa dos direitos humanos se tivesse tido em atenção a claríssima violação dos direitos humanos dos milhares de imigrantes e trabalhadores rurais dessa mesma zona de Odemira, aliás, causa direta da imperiosa necessidade de uma requisição civil temporária, uma vez que as miseráveis condições em que são obrigados a viver torna impossível o combate eficaz à Covid19 nessas freguesias do concelho de Odemira.
O texto das páginas 12 e 13 do Público de hoje, 3 de maio, torna ainda mais aguda a denúncia do que se passa: com o apoio dos donos das propriedades, o trabalho sujo e ilegal de umas tais "empresas de prestação de serviços". e a ausência de resposta em tempo útil das autoridades políticas e policiais face a denúncias apresentadas, nesta zona de Portugal há um larguíssimo número de pessoas reduzidas a uma exploração infame, que sem exagero se pode chamar de escravatura.
Os liberais dirão que é a lei do mercado a funcionar... Duvido que o senhor bastonário do Ordem dos Advogados se sinta envergonhado por ter sublimado a defesa dos direitos dos mais fortes desprezando as gravíssimas violações dos direitos dos mais fracos... Lei do mercado, também?
António Avelãs