Francisco Gonçalves (SG FENPROF), Correio da Manhã, 23 de setembro de 2025

Na semana passada, numa escola da Figueira da Foz, perante uma plateia de alunos, o titular da pasta da Educação afirmou que, em manifestações, os professores perdem "a aura da profissão". Claro está, amenizou: “tinham razões para isso”. É um pouco como vamos ouvindo sobre a greve: que não está em causa, que é direito constitucionalmente consagrado, mas que choca com os direitos dos outros. Enfim, uma maçada, essa coisa das lutas, greves e manifestações.

Neste caso, contudo, o problema não foi o do prejuízo dos outros, o dos limites da liberdade, mas um outro conceito – parece mal, não é um comportamento adequado a professores. Agora compreende-se melhor o “caderno de encargos” da nova disciplina de Cidadania e Desenvolvimento: substituir tudo o que se relaciona com a participação cívica por um certo moralismo lusitano, abrilhantado pela moderna literacia financeira.

Perderão a aura os nossos jovens ao ler a Figueira da Foz de 1936, descrita no romance Sinais de Fogo de Jorge de Sena? Será que parece bem? Não é demasiado ousado integrar o Plano Nacional de Leitura?