Palestina: um povo não se rende
Não é uma luta entre iguais: os rockets do Hamas (independentemente da discussão sobre se o seu lançamento é uma boa estratégia) são um brinquedo comparados com o armamento de Israel; a comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos, aceita como naturais os crimes de Israel, incluindo o completo desprezo do Estado judeu pelas resoluções tomadas pela ONU. Há quem fale, e com razão, do genocídio do povo palestiniano às mãos de Israel. Um genocídio assente na eliminação física dos palestinianos (todos os dados negam a retórica israelita de que não bombardeia instalações civis – o número de civis mortos, incluindo crianças, não pode ser escondido) mas também na imposição de condições de vida insuportáveis (há quem defina os territórios palestinianos como a maior prisão do mundo, só que é ao ar livre…). É uma hipocrisia, ideologicamente fundada, considerar que a responsabilidade pela crise no Médio Oriente se reparte pelas duas forças em conflito. A menos que se defenda que os palestinianos devem desistir de ser um povo com direito a um Estado reconhecido. A Palestina não desiste, os palestinianos têm o direito ao apoio dos que recusam que a legitimidade política se baseie no uso criminoso da força militar. Não são os palestinianos que “ocupam” território de Israel, é Israel que faz instalar colonatos em território palestiniano. É Israel que pretende expulsar de suas casas, em Jerusalém, árabes israelitas para as entregar aos ultraortodoxos judeus. É Israel que impõe a Gaza e à Cisjordânia um bloqueio total.
Palestina usa as armas que tem: pedras (“intifada”) e rockets, na sua maioria intercetados pela defesa aérea israelita. Mas usa sobretudo a dignidade de um povo que não se rende.
No Público de hoje, 17 de maio, merece uma leitura o texto de Rui Tavares (“O conflito israelo-palestiniano e nós”,pg 40) e o de Alexandre Martins, pg.21, com o título “Progressistas (do Partido Democrata dos EUA) abalam certezas democratas sobre o Médio Oriente”.
Uma nota final: como exigir ao governo português e à União Europeia uma intervenção que garanta o direito à sobrevivência do povo palestiniano?
António Avelãs