Artigo:Os Vários olhares sobre o problema dos migrantes

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Os Vários olhares sobre o problema dos migrantes


O principal destaque da 1ª página do Público de hoje, 18 de novembro de 2019, -“Militares portugueses já salvaram 14 mil pessoas no Mediterrâneo “ – afaga o nosso “ego”, tanto mais que o texto de Luciano Alvarez (páginas 10 e 11) sublinha o profissionalismo, a competência, a dedicação e o humanismo das forças portugueses em ação (Marinha, Polícia Marítima e Unidade de Controlo de Costa da GNR). A que podemos acrescentar a disponibilidade de Portugal para receber parte desses migrantes.
Mas o próprio texto toca na ferida que é o outro lado da questão:” Também desde 2015, mais de  11000 pessoas morreram no mar na tentativa de chegar à Europa.” E aqui temos mesmo de “meter a mão na consciência” porque somos europeus, isto é, fazemos parte do bloco geo-político responsável por várias das guerras que obrigam os cidadãos desses países a fugirem, uns para salvar a vida, todos à procura de condições que possibilitem uma vida com alguma dignidade. Não sejamos hipócritas: por interesses geoestratégicos, nós, europeus, fomentámos as guerras que destruíram a Líbia, a Síria e o Iraque (aqui, com a vergonhosa participação, mesmo que apenas logística, do governo português de então) e colaborámos com os norte-americanos na destruição do Afeganistão. Criámos as condições que tornam inevitável a fuga para a Europa. Mas, agora, em vez de os recebermos e de lhe proporcionarmos uma vida “decente”, nós, europeus,  tentamos impedir o desembarque, pagamos à Turquia para os reter, em miseráveis campos de concentração, somos incapazes de encontrar solução para os muitos milhares que permanecem em campos de refugiados na Grécia e por vários outros países. Desenvolveu-se por toda a Europa, a pretexto da invasão de não europeus, uma ideologia racista e xenófoba, que alimenta a extrema-direita fascizante em perigoso crescimento.
Temos razões para nos alegrarmos com o comportamento dos nossos militares no salvamento de tanta gente; mas não nos podemos alegrar com o comportamento da Europa a que também pertencemos.

António Avelãs