Os Tempos
Escrever e pensar 50 anos para trás é um exercício introspetivo e desafiante. Simultaneamente é como se rebobinasse um filme que, quando acaba, volta ao princípio.
As memórias do 25 de abril de 1974 vão vindo e indo, enchendo-me de lembranças daqueles momentos e, de repente, parece que foram há bem pouco tempo, num tempo que passou rápido, mas foi intensamente vivido.
Em 1974, era aluna do Curso de Instrutores de Educação Física quando se deu o 25 de Abril.
A notícia do acontecimento surgiu através de um telefonema de um amigo da família, manhã cedo, comunicando que estava a decorrer um golpe militar organizado por militares, não se percebendo em que sentido era a movimentação militar.
Nessa quinta-feira, já não fui às aulas. Foi um dia explosivo de acontecimentos com um sentimento de um final desconhecido, existindo, por outro lado, a necessidade de informação sobre o ponto de vista da situação política, militar, de como tudo iria evoluir, na perspetiva de começar algo de novo e que pudéssemos chamar Liberdade.
O 25 de Abril de 1974 pôs em movimento a Escola a comunidade educativa. Havia a perceção de que algo tinha mudado, desde as reuniões de alunos, professores, plenários, o movimento estudantil até a relação com as duas instituições de formação de professores de Educação Física: a Escola de Educação Física de Lisboa (EEFL) e o Instituto Nacional de Educação Física (INEF).
Tudo passou a ser diferente. Uma mudança em cada um de nós, tão jovens que éramos e tão livres que nos sentimos.
O tempo que se seguiu marcou para quase todos um futuro diferente, quer universitário quer profissional.
Terminei o curso em 1975, tendo sido colocada em 1976 no Liceu Nacional de Setúbal.
Nesse ano comecei a dar aulas, pela primeira vez. no ensino oficial. Era professora num distrito social e politicamente ativo e; logo nessa altura, sindicalizei-me no Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, até hoje.
Tenho tantos anos de Ensino como de Sindicato e, neste caminho, tive uma vida extraordinariamente rica em ambas as vertentes, com um percurso atravessado por mudanças, ações sindicais, conquistas que ajudei a construir em prol de uma escola mais democrática e de um estatuto profissional digno de uma carreira docente.
Aposentei-me em 2013 no Agrupamento de Escolas Patrício Prazeres. Neste meu percurso de professora sindicalizada passaram 38 anos. Foi uma militância educativa e sindical.
Sem o 25 de Abril de 1974 nada do que foi conquistado teria sido possível.
O filme rebobinou uma pequena história, um testemunho de 50 anos.
Dezembro de 2024
Maria João Vale