Artigo:Os novos ‘Lager’

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Os novos ‘Lager’

Na terça-feira, o Governo Tory britânico apresentou no Parlamento da velha Albion a Nova Lei das Fronteiras (‘National and Borders Bill’) que, infelizmente, não surge isolada no contexto europeu nos tempos xenófobos que correm. Com o pretexto da luta contra as mafias que se servem dos migrantes em busca de asilo, a nova lei parte do pressuposto inconfessado de que todos os que chegam ao Reino Unido por vias não oficiais, supõe-se que não tenham requerido uma autorização legal, não passam de criminosos até prova em contrário, suspeitos de contaminar a ‘estirpe’ britânica. As penas de prisão poderão ir até quatro anos se atravessarem a fronteira ilegalmente, abrindo-se a possibilidade de serem transferidos para centros situados fora do país todos os que solicitarem asilo, enquanto esperam que o seu pedido seja diferido ou não.

Em finais de junho, a Grã-Bretanha iniciou negociações com a Dinamarca com vista a partilhar a deportação dos solicitadores de asilo para o Ruanda, país africano onde se situarão os centros de ‘acolhimento’. De resto, foi precisamente o Governo social-democrático do reino da Dinamarca que lançou este brilhante projeto alegadamente para, segundo a sua esfarrapada justificação, ‘retirar’ argumentos à extrema-direita que tem explorado em seu favor a xenofobia de uma parte da população que se opõe a uma política migratória considerada demasiado ‘generosa’ no passado. Algo está podre no reino da Dinamarca e também no do Reino Unido.

Estas normas e as tentativas de justificá-las revelam que a extrema-direita já tem uma influência determinante em alguns países europeus com a cumplicidade dos governos vigentes. Criminalizar os requerentes de asilo, deportando-os para autênticos campos de concentração situados em zonas inóspitas, como o Ruanda, faz lembrar, tristemente, os campos líbios do regime de Mussolini onde foram encerrados inúmeros cirenaicos opositores do colonialismo fascista italiano. Embora haja que distinguir estas duas situações, o princípio que está na origem da constituição dos novos campos de refugiados à maior distância possível do ‘oásis’ europeu não é estruturalmente diferente: há que separar os ‘civilizados’ do contágio dos ‘não civilizados’. Em tempos de confinamento pandémico é provavelmente mais uma medida ‘profilática’…

Joaquim Jorge Veiguinha