Artigo:OS “ALVOS” CONTINUAM A NÃO TER RAZÃO..., Manuel Pereira dos Santos

Pastas / Informação / Opinião

(“pancarta así escrita, con tinta que derramaba sangre, un No a la Guerra que fue realizada por un grupo de actores liderados por Animalario: Guillermo Toledo y Alberto San Juan”, usada en 2003 contra a guerra no Iraque, - y muchas gracias a mi colega Maria Zuzarte por su información!)

OS “ALVOS” CONTINUAM A NÃO TER RAZÃO...

e já há mais 365 dias para o demonstrar!

um ano escrevi, usando o mesmo autocolante como imagem, um texto intitulado OS “ALVOS” NUNCA TÊM RAZÃO!... e esse texto esteve na página do SPGL como Opinião durante bem pouco tempo (pois “razões de atualidade” o levaram a ser escondido num arquivo morto, sem sequer constar de qualquer listagem visível), e a mesma falta de atualidade e o mesmo “apagão/arquivamento silencioso” ocorreu com a posição pública da Direção do SPGL de apoio e solidariedade com a Ucrânia, e que transcrevo (e subscrevo!): “O SPGL condena inequívoca e veementemente a invasão da Ucrânia pela Rússia. Trata-se de uma intervenção contra as normas do direito internacional e desencadeada à margem da Organização das Nações Unidas e que põe em causa a paz na Europa, ou mesmo em todo o mundo. O facto, real, de termos ainda na nossa memória outras intervenções militares recentes também elas ferindo o direito internacional e à margem da ONU, não justifica mais uma agressão militar contra um país soberano. (...)”

(Como eu teria preferido que o artigo e esta posição afinal já não fossem atuais…)

Um ano depois, vejamos então resumidamente qual o “balanço macabro” da invasão da Ucrânia pela Rússia:

  • cerca de um terço (13 milhões) dos ucranianos fugiu do seu país neste último ano, a maioria para os países vizinhos a ocidente (com relevo para a Polónia, que recebe quase metade);
  • os militares de ambos os lados que foram mortos ou feridos gravemente contam-se por centenas de milhares (embora ambos os exércitos neguem...);
  • o número de mortos civis andará, no mínimo, acima da dezena de milhares (incluindo mais de mil crianças); de referir que estes mortos civis são (quase) exclusivamente ucranianos, a quem o direito de seguir vivendo como tal foi negado.

Nesta guerra como nas outras, localmente há sempre e apenas “perdedores”, (e referi que para um “alvo” não há boas ou más bombas, mísseis, balas ou outras munições... todas são agressivas!) e portanto continuo a recusar dizer, como o “maestro” de Patxi Andión, “quién venció o fue vencido”!

Mas, longe dos bombardeamentos, das mortes, das destruições e das armas, há outras vítimas (pelo ressurgimento da inflação ligada à crise energética, por exemplo), alguns “(pseudo)hesitantes” (sobre quem invadiu ou quem foi invadido) - mas que, de facto, se comportam como criminosamente coniventes - e sobretudo muitos outros “culpados”, de várias categorias:

  • os Salvini e Berlusconi, a Marine Le Pen, os AfD, Vox, a nossa versão local do Chega, o Orban... boa parte dos quais foram subsidiados diretamente pelo Kremlin e Putin, e portanto são apenas “devedores” em pagamento dos “serviços” contratados;
  • as versões ainda mais descaradas (e cujo “horror à democracia” ficou já bem patente) dos Trump, Bolsonaro e similares, para quem o Putin é uma espécie de líder carismático e eficaz no domínio de uma “teocracia musculada” (em que estes já falharam), e que esperam que uma (eventual) vitória deste os traga de novo ao protagonismo nos seus países;
  • o dia de hoje trouxe uma “novidade anquilosada” do PCP (que “teima” em ver em Putin um digno sucessor de Estaline): o comunicado deste partido (sobre a condecoração ao Presidente da Ucrânia) que, como justificação, o acusa de (e cito) “personificar um poder xenófobo, belicista e antidemocrático, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e nazi”; para um partido que teve um papel importante no combate à ditadura fascista em Portugal, esta é uma posição completamente vergonhosa e indigna do seu passado... mas talvez um passo em direção à aproximação com os partidos acima referidos, muitos financiados pelo mesmo autocrático Mas nós “vemos, ouvimos e lemos, e não podemos ignorar”... e portanto denunciamos!

No meio de todo este desastre, alguns factos curiosos para reflexão:

  • os russos são (quase) tão vítimas como os ucranianos: refiro-me ao povo russo, oprimido por uma classe de dirigentes hiper-ricos e hiper-corruptos – mas não é uma “especialidade” exclusivamente russa! - e mesmo aos jovens soldados enviados (sem saberem muito bem como) para um teatro de guerra e morticínio, fora do seu país, e para a qual nem sequer estavam preparados; têm a minha inteira solidariedade e apoio, enquanto povo, para se verem livres do seu regime totalitário (e eu sei do que falo, tendo vivido num durante vinte anos!), e terão a gigantesca tarefa geracional de se reconciliarem com os seus vizinhos ucranianos... pois os inimigos eram os governos, e não os povos, mas nem sempre é fácil ler os acontecimentos desta forma;
  • o governo polaco afinal, com a guerra quase à porta, aceitou receber e apoiar um enorme número de fugitivos ucranianos (cerca de 6 milhões), apesar dos anteriores discursos sobre a limitação da aceitação de refugiados: é, de qualquer forma, um facto notável, mesmo que nos faça perceber que antes se referiam a “árabes, sírios e africanos”... enquanto os ucranianos são “brancos, europeus e cristãos”;
  • a União Europeia – uma “surpresa” para Putin – não se desagregou nem dividiu no apoio à Ucrânia, ou nos boicotes à Rússia, e afinal as ações de Putin acabaram por valorizar o papel da NATO (mesmo em países e pessoas muito céticos ou críticos do seu papel na defesa da Europa);
  • afinal um ator “cómico” ucraniano (tipo Ricardo Araújo Pereira lá da banda), a quem não se atribuiria grande valor político – e isto independentemente das suas ideias mais conservadoras ou progressistas – conseguiu, em vez de fugir para um dos vários países que lhe ofereciam asilo, liderar o seu povo e os militares na defesa do seu país, e passar claramente ao mundo, das formas mais inventivas, uma mensagem de premência no apoio político, económico e militar, o que o transformou num verdadeiro líder no terreno;
  • a agenda política foi dominada, durante alguns meses, pela guerra na Ucrânia... mas o seu prolongamento tende a levar-nos a esquecer esta guerra (a não ser pela prevalência da inflação), e a diminuir os apoios necessários para os ucranianos: por isso, temos a obrigação solidária de nos mantermos ativos nesse apoio... e denunciar os que traem os princípios humanistas e democráticos para apoiarem ditadores em troca de financiamentos suspeitos. NÃO PASSARÃO!

Manuel Pereira dos Santos (fev.2023)

Nota: Enquanto responsáveis pelo departamento de informação temos a dizer que o texto de opinião referido por Manuel Pereira dos Santos teve o mesmo tratamento de qualquer outro texto de opinião aqui publicado.
O SPGL tomou perante a invasão da Ucrânia o texto que entendeu e que o texto de MPS reproduz. Tem dado espaço à publicação de textos de opinião sobre esta (lamentável) situação de guerra, textos nem sempre concordantes entre si, o que é natural perante uma situação complexa com diferentes focos de incidência.

Manuel Micaelo
António Avelãs