O Salário!
Por esta altura do ano, por força da apresentação do OE, a questão salarial emerge normalmente do profundo abismo em que se vai afundando.
Normalmente, também, e após várias e desesperadas braçadas à tona deste agitadíssimo mar da Concertação Social, a substância salarial volta a imergir para níveis cada vez mais abissais.
Nas últimas décadas temos assistido, algo distraidamente, a uma transferência muito significativa do valor pago pelo trabalho para o lucro das empresas, com as consequências sociais que todos conhecemos; desde logo a diminuição do nível de vida e, muito importante, a diminuição da comparticipação, por via do salário, para a Segurança Social.
Muito relevante também é a centralização da questão salarial nacional no Salário Mínimo, olvidando Olimpicamente todos os outros salários (não se queixem de barriga cheia, pá) e, por atacado, aquilo que se designa por Salário Médio.
De facto, nos últimos anos temos assistido a uma convergência bastante significativa entre ambos, o que, no limite, nos levará, num futuro próximo, a atingir esse grande desiderato:
O Salário!
Um estudo da Fundação Gulbenkian, coordenado pela Universidade do Minho, verificou que entre 2002 e 2017 o salário médio(SM) português cresceu apenas 0.32% ao ano, de 879€ para 925€. Mesmo a recuperação económica, a partir de 2013, não teve impacto no SM. Cresceu um pouco mais em 2019.
Este mesmo estudo refere também que o SM dos portugueses com habilitação superior, teve uma quebra acentuada nesse intervalo de tempo., 2002/2017.
No artigo de análise a este estudo, a revista Líder evidencia que:
“Tem-se assistido a um enfraquecimento da classe média. Não só diminuiu o volume de trabalhadores com qualificações intermédias como o seu salário médio cresceu a uma taxa inferior à da generalidade dos restantes trabalhadores.”
Em termos de SM, em 2020 estávamos na quarta pior posição entre os países da União Europeia.
O nosso SM era menos 1/3 que em Espanha e menos 90% que na Alemanha.
Com as previstas e anunciadas subidas salariais na Função Pública, de 2% a 8%, e a actualização dos escalões de IRS em 5.1%, nós, professores, aumentados 2% ou 52€ ou lá o que é, se for, por causa da crise da guerra, claro, continuaremos na linha da frente da convergência para O Salário.
Sopesando tudo a que estamos a ser sujeitos de há anos a esta parte, não nos resta outra alternativa que não seja a denúncia desta fraude e a luta veemente pelos nossos direitos, que se confundem, no nosso caso, com os direitos básicos de todos os Portugueses.
Ricardo Furtado