Artigo:O que têm os delegados sindicais a ver com a produtividade? Tudo”

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O que têm os delegados sindicais a ver com a produtividade? Tudo”

É este o título de uma notícia no suplemento de Economia do Expresso deste fim de semana, na secção Emprego. Nos tempos que correm e no actual panorama em que os ventos correm contra os trabalhadores, os sindicalistas e o sindicalismo, não deixa de ser um título surpreendente. Trata-se de uma conclusão de um estudo sobre Portugal feito por Pedro Martins, antigo secretário de Estado do Emprego e professor no Queen Mary College da Universidade de Londres. Embora esta conclusão se verifique sobretudo na indústria, a verdade é que se trata de uma conclusão de um estudo que vai ao arrepio dos estereótipos e das ideias feitas que desvalorizam o papel dos delegados sindicais e do sindicalismo. A aposta na formação tem sido determinante, sendo a mediação e a negociação no sentido de responder às necessidades dos trabalhadores factores fundamentais para a sua valorização.

Na notícia, Pedro Ferreira, um delegado sindical do SITECSRA (filiado na CGTP) na Iberol, uma empresa industrial de Vila Franca de Xira, refere que “trabalhadores satisfeitos são mais assíduos e produtivos.” Tendo uma parte importante da sua actividade sindical centrada na valorização dos trabalhadores através da formação, Pedro Ferreira destaca que “tem havido um esforço da empresa a esse nível.”

Mais à frente, na notícia cito: “O impacto positivo dos delegados sindicais nas empresas é particularmente grande em Portugal, já que a qualidade média da gestão fica mal posicionada em termos europeus, indica o estudo. Neste contexto, a mediação entre patrões e trabalhadores pode acrescentar muito valor à empresa. O problema é que, com a taxa de sindicalização em queda acentuada, a tendência é para menos delegados sindicais nas empresas. Ou seja, esse potencial perde-se. “O diálogo ao nível das empresas sai fragilizado”, enfatiza Pedro Martins.”

É evidente que o estudo não é ingénuo. O estudo pretende valorizar a vertente do diálogo como via exclusiva para dirimir os conflitos laborais e de classe, em detrimento da luta como meio insubstituível para defender os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras e melhorar as suas condições de vida.

Independentemente de outras eventuais conclusões do estudo que a notícia do Expresso não refere, a importância da organização sindical e de os trabalhadores estarem sindicalizados e terem delegados sindicais activos e respeitadores da democracia e dos interesses dos seus associados é fundamental. A defesa da contratação colectiva e dos interesses colectivos dos trabalhadores e das trabalhadoras foi um avanço civilizacional dos explorados que, através da sua organização em sindicatos se opôs à atomização tão cara ao patronato.

Almerinda Bento