Artigo:O que nos espera?

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O que nos espera?

De repente, todos sabemos identificar no mapa da Ucrânia a localização de uma dúzia de cidades. Pelos piores motivos. A cidade de Mariupol que nós lemos com “o” aberto, mas que os ucranianos pronunciam com um “o” mudo, onde já não há nenhum jornalista, está de tal modo irreconhecível e devastada, que já a comparam a Guernica. Mas podíamos compará-la a outras cidades com nomes talvez esquecidos porque mais distantes como Grozny, Aleppo, faixa de Gaza, Hiroshima, Nagasaki …

É inevitável, os jornais não podem ignorar uma guerra que “começou” vai para um mês e que já obrigou milhões de ucranianos a fugir, a passar à condição de refugiados, de combatentes, de voluntários, de resistentes contra uma invasão. Ataques indiscriminados, cercos, mortos que são lançados em valas comuns, sirenes que avisam para a eminência de um ataque, pessoas que fogem para os abrigos, pessoas que choram em desespero, crianças que não percebem o que acontece, famílias que são obrigadas a separar-se, cães e gatos ao colo dos seus donos... É a guerra, a maior infâmia que se pode infligir à humanidade, agora com novas armas hipersónicas, com ameaças de armas químicas, com botões que podem ser accionados no conforto gélido do palácio imperial…

Percorro todo o jornal “Público” de hoje, no segundo dia da Primavera, à procura de alguma notícia relacionada com a educação para a minha proposta do “Notícia do Dia”. Interessa-me descobrir se na secção Política – Nomes do próximo executivo conhecido amanhã – encontrarei referência ao nome do próximo ministro da educação. Nada. O cofre está fechado e só os nomes de Mariana Vieira da Silva e de Augusto Santos Silva aparecem numa notícia de página inteira. Nada se sabe sobre os futuros ministros escolhidos por António Costa para a próxima legislatura e estou certa que milhares de professores quererão saber quem irá suceder a um ministro da educação inexistente nos últimos anos. Porque há tanto a fazer, como comprova a notícia na página 12 do mesmo jornal, assinada por Clara Viana, com o título “Há mais professores em falta. Preço dos combustíveis afecta deslocados”, que revela um dos muitos problemas a que qualquer governo decente terá de responder. Como informa a notícia, são “cerca de 30 mil alunos sem professores a pelo menos uma disciplina”. Chegados perto do final do 2º período, “o número de horas lectivas a concurso na contratação de escola passou de 5327 para 5643”, segundo dados de Vítor Godinho, dirigente da FENPROF, das quais, a esmagadora maioria (4663) ”integram horários temporários, com durações que podem ser apenas de um mês.” Com o aumento dos combustíveis, numa situação de precariedade, como é possível aceitar um horário reduzido que mal dá para pagar as deslocações para uma escola longe de casa?

Da janela que fica em frente à mesa de trabalho de onde escrevo este pequeno texto, vejo os ramos da árvore que se despiu durante o Inverno, onde aparecem os primeiros rebentos verdes das folhas que nascem e os pássaros que lá poisam, lembram-me que a Primavera chegou com a esperança de um novo ciclo de vida. Um ciclo de esperança e de vida que devia ser de direito para toda a humanidade e que os homens teimam em não querer cumprir. Gostaria de ser optimista. A luta pela Paz é talvez das mais difíceis.

Almerinda Bento