Artigo:O Que Avalia o PISA: Criar ou “Desenrascar”

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O Que Avalia o PISA: Criar ou “Desenrascar”

Isabel Flores
| Investigadora ISCTE |

O pensamento criativo pode ser ensinado, a aprendizagem destas competências surge pela participação em atividades de cariz artístico e tecnológico e pela atitude pedagógica dos docentes

Portugal posicionou-se ligeiramente acima da média da OCDE nas provas que avaliaram o pensamento criativo. A primeira reação foi de atribuir este resultado à característica inata aos portugueses – capacidade de desenrascar.

Segundo o Priberam desenrascar-se (safar-se) significa “fazer com relativa facilidade e improvisação, geralmente sem os meios adequados”.

O pensamento criativo avaliado pelo PISA envolve um conjunto complexo de capacidades como expressão escrita ou visual e resolução de problemas científicos ou sociais, a partir de dados necessários. Nada tem a ver com improvisar. A prova materializou-se em questões como: organizar uma agenda complexa, combinar ingredientes escassos para confecionar uma refeição, desenhar um poster para anunciar um evento ou programar um robot para arrumar prateleiras num supermercado.

Os alunos portugueses destacaram-se pela capacidade de gerar ideias genéricas e de desenvolver ideias prévias, especialmente nas componentes visuais e científicas. A capacidade de propor ideias realmente criativas –“fora da caixa” – foi a dimensão em que ficámos abaixo da média da OCDE.

O pensamento criativo pode ser ensinado, a aprendizagem destas competências surge pela participação em atividades de cariz artístico e tecnológico e pela atitude pedagógica dos docentes. Em Portugal, o destaque vai para os professores com uma mais de 70% dos alunos a reportar que estimulam e valorizam a criatividade, dando espaço para que cada um expresse livremente as suas ideias. O eixo da participação em atividades como artes, música, expressão ou programação são os pontos fracos do sistema com menos de 10% dos alunos a declarar que delas beneficiam.

Sempre os professores a fazer a diferença na aquisição de conhecimento e competências. Uma das importantes conclusões deste estudo é que não existe pensamento criativo sem uma base sólida de conhecimentos científicos, matemáticos e de leitura. As escolas devem trabalhar para o desenvolvimento de atividades de cariz mais cultural e artístico sem descurar a dimensão do conhecimento e da abertura a novas ideias.

Texto original publicado no Escola/Informação Digital n.º 43 | julho/agosto 2024