O Paradoxo da Juventude sem Futuro
Os jovens vêem-se num futuro negro, em clara conexão com a realidade das alterações climáticas e uma consciência ecológica aguda, como demonstra um estudo da Universidade de Bath, ontem divulgado num artigo do Jornal Público, em que se refere que “Quase dois terços dos jovens portugueses acreditam que a humanidade está condenada, apenas abaixo dos jovens da Índia (74%) das Filipinas (73%) e do Brasil (67%).”
O estudo incluiu uma amostra de jovens dos 16 aos 25 anos de dez países diferentes, (Portugal, Austrália, Brasil, Finlândia, França, Filipinas, Estados Unidos, Índia, Nigéria e Reino Unido) do qual também se conclui que:
- quase 40% dos jovens hesita em ter filhos devidos às ameaças resultantes das alterações climáticas;
- 60% “considera que os Governos não estão a proteger os jovens, o planeta, nem as gerações futuras, sentindo-se traídos pelas gerações mais antigas e entidades governamentais.”
Tais resultados levantam sérias preocupações quanto às consequências desta permanente ansiedade dos jovens na sua saúde mental e nas decisões que têm de tomar ao longo da vida em tantas áreas decisivas para o bem-estar individual e coletivo.
Reconheço nestes resultados o meu próprio sentimento de impotência face a uma série de problemas que se foram desfilando ao longo da minha geração, sem que nenhum tivesse qualquer espécie de resolução, todos eles agravados pela força de um crescimento económico destituído de qualquer espécie de governança mundial baseada em princípios de justiça, equidade e sustentabilidade, apenas presente, às vezes, na retórica de alguns. Com Trump, até essa retórica caiu, em jeito de uma espécie de máscara que encobrisse a face oculta dos poderosos deste mundo.
A destruição da Amazónia, a perda de biodiversidade, a eucaliptização, os derrames de crude, o Armageddon nuclear, a poluição, a destruição do solo arável, todos estes problemas, prévios à emergência das alterações climáticas no cenário mediático mundial, continuaram a manter-se ou a agravar-se significativamente, com o contributo ativo da classe política e dos agentes económicas, e a passividade e indiferença de uma grande maioria, ignorante ou simplesmente a borrifar-se para o assunto.
A atual geração de jovens, altamente educada, tanto por via dos sistemas educativos como por via dos media, vive a natural ansiedade e preocupação que o conhecimento atual tem de necessariamente suscitar numa mente normal, dotada de empatia, sentido de responsabilidade e capacidade de avaliação da realidade, em muitas áreas claramente desfavorável às suas necessidades e ambições (escassez de recursos, automação a destruir empregos, falta de oportunidades, etc.).
Uma das questões interessantes a acompanhar em futuros estudos, será a transformação suscitada na psicologia e perspetivas dos jovens inquiridos à medida que forem contraindo as obrigações e compromissos inerentes às responsabilidades familiares e profissionais. Pois, do passado, retirámos a lição que de Hippie e a Yuppie vai apenas um saltinho.
João Correia